Desporto
KARATÉ: “O GOSTO POR UM HOBBIE TORNOU-SE UM ESTILO DE VIDA”
O Open de Karaté, organizado na cidade do Porto, pela terceira vez consecutiva e pela última vez no Pavilhão Rosa Mota, apresentou este ano uma “edição muito especial”, decorrente da modalidade ter assumido, em agosto de 2016, “a sua posição no movimento olímpico”.
Entre exercícios de aquecimento e barras energéticas, o relógio aproximava-se a passos largos das 09:00. O frenesim nos corredores do Pavilhão anunciava os últimos preparativos para a competição de Kata.
Debruçado nas grades, Rodrigo Lopes olhava a prova do colega de equipa, enquanto esperava para competir. Tem oito anos e o sonho de praticar karaté profissionalmente. Entre palavras tímidas e espaçadas, o atleta do Sporting Clube Vista Alegre (SCVA) assumiu: “o karaté ensinou-me que tenho de ser muito exigente”.
Já Ana Bento, atleta do Leixões Sport Clube (LSC), conversava a sorrir. Pratica karaté há apenas 3 anos e, antes de entrar para o Tatami, confessou ao JUP que o desporto a ensinou a defender-se e a “respeitar o outro”. Tem 11 anos e já faz pedidos de gente grande: “Mais competições significam mais oportunidades para nós e para o karaté”.
Quando se trata dos filhos, os pais não poupam esforços. “Para onde ele vai, eu acompanho, sempre!”, reconhece Conceição Valente, fã e mãe de Nuno Moreira, o atleta eleito “Jovem Promessa” pelo Instituto de Desporto de Portugal e pela Conferência do Desporto de Portugal, em 2004.
Rosa Mota, a madrinha do evento, encerrou a manhã de provas. A medalha de ouro olímpica subiu ao palco para lembrar os que estão no pódio que “uma competição não se ganha sozinha e que os últimos também têm o seu valor.”
Na entrega de medalhas marcaram presença Paulo Cardoso, presidente do Núcleo Português de Karaté (NPK), Rosa Mota, Ernesto Santos, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã e Nuno Baba, em representação da Porto Lazer.
Kumite de miúdos a graúdos
Durante a tarde, os Tatamis encheram-se de vontade. Estratégias delineadas, conselhos ouvidos e umas quantas doses de ansiedade apressavam o ritmo de quem estava dentro e fora da área de combate.
João Casemiro é atleta da Associação Shotokan Kokusai Karaté Santo António (ASKKSA). Tem 16 anos e uma paixão: “O gosto por um hobbie, tornou-se um estilo de vida”. Sobre a conciliação dos estudos com os treinos, João considera que “para quem gosta, há sempre tempo”.
Mariana Lélis regressou a Portugal com um título inédito no karaté. Uma semana depois, a atual campeã da Europa em júniores recorda o momento em que representou a seleção nacional: “Foi espetacular”. A atleta foi homenageada durante o Open pelo feito que conquistou na disciplina de Kumite, na Bulgária.
Dois lugares para a direita estava Tomás Silva. Aos 19 anos, orgulha-se da responsabilidade de carregar o símbolo das quinas ao peito: “o meu trabalho ao longo do ano é recompensado.” Em declarações ao JUP, o atleta destaca a importância de valores “como a união e o espírito de equipa” fomentados pela modalidade.
Na perspetiva de Tomás, os 75 atletas estrangeiros representados no Open “acrescentam ao karaté a sua cultura e estilo de combate”, o que contribui “para um karaté mais rico internacionalmente.”
São pouco mais de duas dezenas. Identificam-se pela camisola amarela e têm a seu cargo a logística do evento. De entre os membros do staff, Diogo Batista não se intimida na hora de apontar o dedo às lacunas que o karaté apresenta: “falta mais participação, falta cativar mais jovens”.
As falhas na divulgação nacional da modalidade são também uma preocupação de Bruna Valosim. É atleta há 11 anos e, agora, responsável por transmitir os conhecimentos e a paixão pelo karaté aos mais pequenos. “Pais, educadores e escolas” são a solução que encontra para as colmatar.
O que falta fazer no karaté
De orgulho fácil, Fernando Santos levou Pedro Matos, um dos atletas da Escola Karaté do Equilíbrio, à conquista da medalha de ouro. Com o sentimento de missão cumprida, esteve à conversa com o JUP.
Foi de forma inesperada que, há cerca de 40 anos atrás, deu os primeiros passos na modalidade. “O Bruce Lee incentivou-me a praticar karaté”, começou por dizer. Atualmente, dedica-se a ensinar aos mais jovens o que aprendeu e ainda aprende: “Em cada dia de treino descobrimos que ainda nos falta fazer alguma coisa.”
“O Karaté é uma procura constante e é isso que ainda nos faz andar cá”
Este desporto “ajuda a valorizar o caráter, a sinceridade, a etiqueta, o esforço e o controlo”. Em todas as aulas, faZ com que estas cinco máximas sejam imperiais. No que diz respeito ao desenvolvimento e à projeção da modalidade em Portugal, defende que um dos objetivos passa por “apostar, cada vez mais, na formação” e assume que “torneios como este são uma catapulta para os atletas e para a modalidade em si”.
O selecionador nacional, Joaquim Gonçalves, assegura que a modalidade “trabalha um conjunto de valores essenciais”. Pormenoriza ideais como o “respeito por si”, pelos adversários e pela equipa de arbitragem. Em declarações ao JUP, o treinador considera o Open Internacional “importante” para uma maior visibilidade dos praticantes e defende que “são provas como esta que atestam o valor dos atletas portugueses.”
O pôr-do-sol foi o relógio de serviço. As sombras, que se tornavam cada vez mais delineadas no Tatami, deixavam adivinhar que a hora para a entrega das medalhas já não tardava. Eram 20:00 e a cerimónia começou.
O Presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Ernesto Santos, abriu as portas do Pavilhão Rosa Mota, em 2015, para a 13.ª edição. Para o futuro, deixa em aberto a possibilidade de o Open voltar ao Pavilhão Rosa Mota: “Espero que quando estiver reconstruído voltemos”. “É com as pessoas que se faz uma cidade e o Porto merece ser visitado”.