Desporto
CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Sentia-se que Paulo Bento tinha o lugar em risco na Seleção. Há muito que era um selecionador a prazo. Era tudo uma questão de dias. Mais dia, menos dia, mais jogo, menos jogo, mais derrota, menos derrota, Paulo Bento iria acabar por sair. Não é preciso perceber-se muito de futebol para se chegar a esta conclusão.
Há muito que a Seleção Nacional, a «equipa de todos nós», se encontrava moribunda. Esta Seleção de Paulo Bento estava “ligada às máquinas”. A sua morte estava anunciada. Ora, quem desligou a máquina foi a Albânia, ao infligir-nos aquela humilhante derrota que acabou com tudo.
Portugal nunca tinha perdido com a Albânia, a 70ª Selecção do ranking da FIFA. A derrota teve contornos de humilhação e deixou Paulo Bento sem alternativa possível que não a de abandonar, voluntariamente, o cargo de selecionador. Limitou-se a cumprir a vontade dos milhares de adeptos que, no estádio de Aveiro, o vaiaram com assobios e lhe mostraram lenços brancos, pedindo-lhe que se fosse embora.
É bom não esquecermos que há 6 anos que a Selecção Portuguesa não perdia um jogo em casa. Foi preciso vir cá a Albânia para terminar a invencibilidade e Paulo Bento bater mais um recorde…
É um facto que esta Seleção Nacional não jogava nada à bola. Nada de nada. Aliás, nunca jogou nos últimos quatro anos. Não admira a descrença generalizada entre os adeptos, que sabiam que com Paulo Bento ao leme não íamos a lado nenhum. Ainda agora começou a fase de qualificação para o Euro 2016 em Futebol e já estamos atrasados em relação à concorrência…
Claro que nada disto teria acontecido se a Federação Portuguesa de Futebol não tivesse renovado o contrato de Paulo Bento antes do Campeonato do Mundo, onde a prestação da Seleção foi desastrosa.
Esta Seleção não tem uma ideia de jogo. Os jogadores não demonstram garra, nem atitude, nem espírito de conquista. Basta olhar para as estatísticas desta derrota com a Albânia: apenas 4 remates enquadrados com a baliza albanesa durante os 90 minutos… Patético!
A ausência de Cristiano Ronaldo não pode servir de desculpa, pois temos a obrigação de vencer sempre a Albânia, seja em que circunstância for. Ainda por cima, estávamos a jogar em casa, com milhares de adeptos que pagaram bilhete para, no mínimo, ver um bom espectáculo. Sim, porque a vitória, essa já a dávamos como garantida. Nada de mais errado, como depois se viu.
Como explicar então esta humilhante derrota perante a frágil Albânia? Repito: Al-bâ-ni-a. Parece difícil de acreditar, mas é verdade: nós perdemos mesmo com uma Seleção que, desde 1963 (já lá vão 51 anos…), só tinha conseguido ganhar quatro jogos oficiais fora de casa. Eram quatro, agora são cinco! Mais um recorde para Paulo Bento…
Chocou-me também que, a 15 minutos do fim do jogo, numa altura em que Portugal já estava a perder e necessitava, por isso, de marcar dois golos, Paulo Bento tenha “queimado” a última substituição fazendo entrar Miguel Veloso. Era este o jogador de que precisávamos naquele momento para “mexer” com o jogo e levar a equipa para a frente e em direção ao golo?
Foram muitos os equívocos e as polémicas durante o consulado de Paulo Bento à frente da Seleção. Foram vários os jogadores que o técnico marginalizou e recusou convocar, por mera embirração pessoal. Olhando para a equipa que defrontou a Albânia, impõe-se uma questão: que credibilidade tem um selecionador nacional que acha que jogadores como Ivan Cavaleiro, Vieirinha e Ricardo Horta são melhores do que Quaresma?
Mas no meio do caos, há que pensar em “arrumar a casa”… Esta é a oportunidade de ouro para dar início a uma nova era na Selecção Nacional. Para tal será preciso, antes de mais, escolher bem o homem que vai liderar o projeto: alguém com o perfil adequado à função e às necessidades do momento. Mas também alguém imune a pressões e que seja capaz de pôr em campo os melhores, independentemente da equipa onde joguem… Cabe à Federação encontrar esse homem!
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Vítor Maia
16/09/2014 at 14:52
Depois de ler este artigo pergunto o que queres dizer com ideia de jogo. E pergunto-me também o porquê de defenderes o Quaresma na selecção se nem no seu clube é opção regular. Por outro lado Ivan Cavaleiro, Horta, entre outros, tem mais minutos de jogo (num campeonato superior) que o extremo do Porto nos seus clubes? Quanto á renovação de Paulo Bento antes do Mundial, não é um facto novo pois tal aconteceu antes da participação de Portugal no Euro 2012, independentemento dos resultados que poderiam ser obtidos nessa competição. E agora pergunto, devia um seleccionador nacional estar dependente apenas dos resultados? Não devia servir como uma espécie de “mentor” de todas as selecções portuguesas, desde a mais jovem á AA ? Como podemos exigir resultados se não trabalhamos de forma equilibrada e sustentada para os conseguir? Concordo com a saída de Paulo Bento, no futebol todos os ciclos se fecham mas discordo com certas ideias e opiniões evidenciadas neste artigo.
Cumprimentos
Carlos Martins
17/09/2014 at 01:06
Obrigado pelo comentário. Quando digo que esta Selecção não tem uma ideia de jogo, quero dizer que os jogadores, quando recebem a bola no início do processo de construção, parecem não saber bem o que fazer com ela: jogar longo ou curto, pelos flancos ou pela zona central… Vê-se que falta ali treino de conjunto e que a equipa joga sem uma “estratégia” bem definida. Dá ideia que a “táctica” é passar a bola o mais rapidamente possível ao Cristiano Ronaldo e esperar que ele, sozinho, marque golos e resolva jogos… Ora isso não é nada!
Quanto ao Quaresma, antes da convocatória para o jogo com Albânia tinha havido 3 jogos do Campeonato e, desses, o Quaresma foi titular em 2 jogos (contra Marítimo e Moreirense)… Achas pouco???
Continuo a achar que devem ser ir à Selecção os melhores jogadores. Logo, como eu acho que o Quaresma é melhor jogador do que o Ivan Cavaleiro, penso que deveria ser ele o escolhido… E como também acho que o Quaresma é melhor do que o Vieirinha, não faz sentido o Vieirinha ser titular e o Quaresma não estar sequer no banco… Por isso foi chocante ver, a 15 minutos do fim do jogo com a Albânia, o Paulo Bento meter em campo o Miguel Veloso porque não tinha nenhum “desequilibrador” no banco de suplentes…
David Guimarães
16/09/2014 at 16:41
Amigo Carlos,
Discordo da tua análise. Acho ridículo uma Federação renovar contrato antes do mundial, estabelecendo determinado projecto com Paulo Bento ao leme, para depois o mandar embora. Que visão global é que isso demonstra de quem gere a FPF? A Federação faz mal a articulação com as selecções jovens e a selecção A. Repara no exemplo da selecção sub 20 vice campeã do Mundo… O termo renovação é muito discutível. Por exemplo sai Varela que jogou sempre bem na selecção mas Pepe já é intocável embora cometendo muitos erros. O seleccionador deve chamar os melhores independentemente de serem novos ou velhos. A idade não interessa nada. A embirração com Postiga é absurda visto que na selecção joga bem. O Quaresma tem de ser chamado assim como o Rúben Neves (etapas na carreira completamente distintas). Porque não se experimenta Adrien a titular que está habituado a jogar com William. Se acham que os pontas de lança não apresentam qualidade joguem com um ataque com falso 9. Ronaldo, Nani e reabilitem o Dany. O Horta está bem e o Varela deve voltar em detrimento de Ivan Cavaleiro que não compreendo tanto. Prefiro até Mané ou Rony Lopes.
Vejo dois nomes que estão habituados a trabalhar e a articular equipas seniores com camadas jovens. Jesualdo Ferreira (muito experiente) e Rui Vitória (ainda desprezado). Tem que se criar um estilo que estabeleça modelos de jogo e fomente uma união de grupo desde o período júnior. Como se fez nos anos 90 com Figo, Rui Costa etc… É isto que a Federação deve pensar, não tanto centralizar atenções em figuras individuais.
Um abração!
Carlos Martins
17/09/2014 at 01:30
Obrigado pelo comentário, amigo David… Para mim, o erro não foi deixar sair agora o Paulo Bento. O erro foi terem-lhe renovado o contrato antes do Mundial, sem esperar pela prestação (desastrada) da equipa…
Concordo quando dizes que se trabalha mal ao nível da articulação de esforços e de métodos de trabalho entre as Selecções jovens e a Selecção A… Quanto à renovação que é preciso fazer, não será fácil… A Selecção de sub-21 tem bons jogadores e tem estado a fazer uma campanha brilhante, mas a maioria dos jogadores ainda não estão preparados para jogar pela Selecção A…
Concordo quando dizes que “O seleccionador deve chamar os melhores independentemente de serem novos ou velhos”… Esse é um dos motivos pelos quais defendo a chamada do Quaresma à Selecção… Porque se ele é melhor jogador do que o Ivan Cavaleiro ou o Vieirinha, não vale a pena estar a deixá-lo de fora e convocar os outros dois…
Quanto ao futuro seleccionador nacional, gostaria de ver um destes dois: Fernando Santos ou Jesualdo Ferreira…