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Desporto

DEZ EXTRAORDINÁRIAS EQUIPAS – Nº 10: SPORT LISBOA E BENFICA (1960-1968)

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Regressando ao Jornal Universitário do Porto e às minhas crónicas sobre histórias do futebol, irei escolher dez magníficas equipas, para mim as melhores de sempre ao nível de clubes. Efetivamente existem inúmeras escolhas apropriadas mas esta dezena que irei apresentar ostenta em comum uma colaboração dos seus constituintes durante vários anos sob o mesmo emblema, uma relação forte e frutífera entre as suas principais figuras (jogadores e treinadores) que, “batalhando” juntos ao longo de vários anos, arrecadaram também inúmeros troféus. Todos os clubes desta lista são possuidores de superestrelas, granjearam prestígio mundial e construíram uma identidade própria e um carimbo de qualidade distintivo, no fundo, a mística, aferida através do legado histórico e da perenidade e solidificação de uma aura mítica junto dos seus pares e também do público.

A equipa do Benfica da década de 1960 é a única portuguesa a figurar nesta minha lista das melhores de sempre do desporto rei. O mais bem-sucedido treinador desta década a comandar o clube da Luz foi Béla Guttmann, um “profeta” do “bom futebol”, atrativo e atencioso para com o público. Esses pressupostos foram visíveis na explanação estilística dos “gloriosos encarnados”, espraiados no terreno num sistema de 4-2-4, uma moda de “arrumação das pedras” na época. Este comportamento tático caracterizou o comportamento benfiquista durante o seu período épico, tempo de domínio avassalador das “águias” no campeonato nacional, chegando também a cinco finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 8 épocas, vencedores em 1961 e 1962, derrotados em 1963, 1965 e 1968.

Estas temporadas lendárias estão intimamente ligadas ao génio de Eusébio, indiscutivelmente o jogador mais tecnicista, veloz, forte, o goleador do conjunto. Embora o “pantera negra” fosse inegavelmente o jogador mais vistoso, a crítica daquele tempo rendia-se a outro atleta natural de Moçambique, Mário Coluna, o jogador coletivamente mais influente, fisicamente inesgotável, pautava os ritmos, sendo o principal responsável pelo futebol dominador e impositivo dos lisboetas. Este “monstro sagrado,” crucial taticamente, era completíssimo, juntando inteligência de jogo a um remate explosivo. Outros craques imprescindíveis nestes títulos foram, entre muitos outros que podia mencionar, o guarda-redes Costa Pereira, o “capitão” José Águas, o seguríssimo Santana e o virtuoso António Simões.

A final da Taça dos Clubes Campeões Europeus vencida pelos lisboetas por 5-3 frente ao Real Madrid (penta campeão europeu) foi a segunda consecutiva conquistada pela equipa treinada por Béla Guttmann. A superação deste ilustre adversário de uma forma tão convincente e brilhante, convenceu a imprensa internacional. Termino com um excerto do jornal “Marca” que ilustra e dimensiona o estatuto que aquele plantel granjeava no mundo do futebol:

“O Benfica começou a merecer o triunfo quando com absoluta confiança dir-se-ia com insolência – nas suas forças e no grande valor da sua linha avançada, não se comoveu. Foi a primeira equipa a ganhar ao Madrid uma final da Taça dos Campeões Europeus. Conseguiu-o por ter conseguido transpor uma barreira importante ao ser a primeira equipa a não dançar ao som que tocava o Madrid. Pelo contrário, com o 2-0 de desvantagem, lutou até obrigar o Madrid a dançar ao som que lhe impunha. O Benfica não se deixou vencer nem hipnotizar pelo Madrid.

Há que tratar o Benfica por bicampeão e por excelência. Venceu o penta campeão europeu como, anteriormente, lançara o Barcelona para fora da Taça da Europa.”.

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3 Comments

3 Comments

  1. Carlos Martins

    16 Out 2014 at 16:07

    Amigo David,

    O artigo está bem fundamentado e faz uma análise bastante completa e detalhada a uma equipa que marcou uma era do futebol português…

    Um abraço

  2. Pedro Marques Pinto

    27 Out 2014 at 22:47

    Aproveito para felicitar o teu regresso ao JUP e às magníficas crónicas sobre história do futebol que tão bem escreves. Esta iniciativa de escolheres, descreveres e enquadrares dez equipas que marcaram o percurso histórico do futebol europeu parece-me pertinente e interessante. Começas, a partir de uma contagem decrescente, a nomear com justiça o Benfica da década de 60, tão acarinhado pelo aparelho ideológico do regime salazarista, como exploras na tua tese, que jogando com Eusébio, Coluna ou José Águas, conquistaram a glória nacional e a fama internacional, ao travar a crescente hegemonia de clubes como o Barcelona ou o Real Madrid, que actualmente dominam o futebol europeu. Há que valorizar, obviamente, o imprescindível papel desempenhado por Bela Guttman na organização táctica e na liderança de uma equipa que alcançou digna e reconhecidamente o estatuto de mítica.

    Aguardo as próximas equipas,
    um abraço grande

  3. Geronimo

    17 Mai 2016 at 14:22

    É uma pena muito sincera que eu tenho que o Benfica da década de 60, tão acarinhado pelo aparelho ideológico do regime salazarista, e sendo ainda a espinha dorsal da selecção nacional que conseguiu o seu melhor resultado de sempre na mesma década, nunca tenha recebido a selecção nacional no seu próprio estádio, ao menos uma vez, para comemorar tal feito.

    Infelizmente tais comemorações foram desviadas para Alvalade, Antas, Restelo e até Lourenço Marques. De resto, a selecção nacional nunca descolou do Jamor.

    Também seria de supor que o Benfica, vivendo um ciclo de ouro com a sua melhor linha avançada de sempre, e sabendo que o Estádio Nacional nem sempre iria receber a final da Taça de Portugal, pudesse ao menos receber honrosamente uma vez uma final em termos neutros.

    Nada. Desde a inauguração do Estádio Nacional, e durante o regime salazarista, que tanto acarinhou o Benfica, apenas uma vez não foi lá disputada a final da Taça de Portugal. Mas é como se diz, há sempre uma primeira vez para tudo.

    É curioso que nem assim o pobre do Futebol Clube do Porto conseguiu derrotar o Leixões Sport Clube em 1961… e lá mora essa famosa conquista numa rua em Matosinhos.

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