Desporto
ROGÉRIO CENI: O JOGADOR COM MAIS VITÓRIAS POR UM SÓ CLUBE
A longevidade do capitão do São Paulo foi uma premissa sine qua non para a obtenção de um feito com esta magnificência. O guarda-redes brasileiro está agora sem par, ultrapassando o antigo internacional galês Ryan Giggs. Esta segunda-feira, o guardião do tricolor paulista bateu um recorde, talvez nunca mais atingível no universo futebolístico. O brasileiro tornou-se no jogador com maior número de vitórias por um único clube. Esta marca inédita e direi mesmo inalcançável, devido às constantes trocas de clube e à não fixação dos jogadores durante vários anos na mesma instituição, foi atingida esta segunda-feira, quando o seu clube, o São Paulo, recebeu e derrotou o Goiás por três bolas a zero. Ceni alcançou, desta forma, as 590 vitórias com a camisola do “tricolor”, mais uma do que outro excecional executante do “desporto rei”, Ryan Giggs. Este ilustre veterano do futebol mundial, que “pendurou as botas” no final da época passada, é agora adjunto na equipa técnica de Louis Van Gaal no seu clube de sempre, o único onde competiu enquanto atleta, o Manchester United.
O registo “arrepiante” do brasileiro foi apenas mais um, entre inúmeros feitos relevantes que a sua longuíssima carreira já conheceu, sem qualquer tipo de paralelo no mundo do futebol. Este guardião de 41 anos defende a baliza paulista, de forma ininterrupta, há 24 temporadas. Neste seu único clube enquanto sénior, bateu os recordes do maior número de golos de um jogador na sua posição (123), mais jogos oficiais pelo mesmo clube (1135) e mais partidas como capitão de equipa (928). Foi ainda agraciado por duas ocasiões como o melhor jogador do brasileirão, distinção que acumulou, nesses anos, com a de melhor guarda-redes do campeonato brasileiro.
Este “goleiro” é um exímio e reconhecidíssimo especialista na marcação de livres diretos e de grandes penalidades, podendo ainda aumentar relevantemente o seu pecúlio de golos até ao seu último jogo. O último tento apontado por Rogério Ceni data da semana passada, quando marcou, como habitualmente, num colocado pontapé de livre direto, que foi preponderante na vitória do clube do seu coração por 2-1 sobre o Bahia. A época mais produtiva deste guarda-redes goleador foi a de 2005, quando faturou por 21 vezes nos 77 jogos em que participou. Esses golos permitiram à sua equipa amealhar 11 pontos. Para além dessa época, houve outras duas em que atingiu um pecúlio de tentos com dois dígitos, uma dessas temporadas é a atual. Nestes 21 anos desde a sua estreia, apresenta uma média de golos de aproximadamente 6 por temporada, assombroso para um guarda-redes e muito aceitável para um extremo ou um médio.
Para além destes cobiçáveis recordes individuais, Rogério tem também um palmarés rico ao nível de títulos coletivos. Foi uma vez campeão do mundo de seleções em 2002, campeão do mundo de clubes em 2005, vencedor da Taça Intercontinental em 1993, levantou a Taça das Confederações em 1997, bicampeão da Copa Libertadores em 1993 e 2005, tricampeão brasileiro em 2006, 2007 e 2008, juntando ainda mais 9 conquistas, entre provas nacionais e continentais.
Este jogador, já quarentão, conquistou o seu primeiro título, a Taça Intercontinental, há 21 anos, na sua primeira temporada como profissional sénior. O final da sua carreira está previsto para o final deste ano, para o dia 7 de Dezembro, como o próprio anunciou em Abril. Até lá, os seus impressionantes recordes (golos, jogos, partidas como capitão) vão ser certamente ampliados. Façamos todos uma vénia a este extraordinário jogador, fantástico em ambas as balizas.
Carlos Martins
31 Out 2014 at 2:03
Amigo David,
Excelente artigo. Aos 41 anos, o Rogério Ceni está aí para as curvas… De todos os recordes, o que mais me impressiona é a fabulosa marca de 123 golos marcados na carreira. Nada mau para um guarda-redes…
Um abraço
David Guimarães
1 Nov 2014 at 17:03
Amigo Carlos, repara que mesmo para um extremo ou médio interior, contar com uma média de 6 golos por época é muito aceitável. O seu melhor registo de 21 golos numa só época, “envergonha” inclusivamente, bons avançados centro!
Um forte abraço.
Pedro Marques Pinto
31 Out 2014 at 3:35
Em cada artigo que escreves, noto que a tua paixão inata pelo futebol cresce exponencialmente. Rogério Ceni é um daqueles guarda-redes extraordinários que merece obviamente perfilar-se entre as maiores glórias do futebol brasileiro e mundial. Sabia que acumulava títulos e troféus, mas desconhecia em absoluto os recordes que alcançou ao longo da sua carreira, que são, em termos matemáticos, simplesmente impressionantes. Ceni é um jogador completíssimo, que demonstra, com estes números intangíveis, que o papel do guarda-redes é tão importante quanto o de um defesa central, médio defensivo e ofensivo ou avançado. Ainda bem que o futebol recente ainda produz jogadores como Maldini, Giggs ou Buffon, isto é, homens que se devotam exclusivamente à causa maior do clube que representam, estabelecendo desta forma uma relação identitária profunda com as cores do emblema que defendem. Infelizmente, o jogador-mercadoria já não obedece à lógica do clube único, e os mercados agradecem a circulação incessante do capital
um abraço grande
David Guimarães
31 Out 2014 at 3:49
Amigo Quim,
Obrigado pelo comentário com mais um auspicioso final! Ainda bem que falas em Buffon, pois ainda esta quarta-feira cumpriu o jogo 500 pela Juventus, o seu amado clube. É caso para dizer que também é possível nos apaixonarmos eterna e exacerbadamente por uma “Vecchia Signora”.
Um forte abraço!
Raquel Moreira
1 Nov 2014 at 16:37
Mais um interessante artigo que nos faz perceber a importância dos indivíduos para a história do colectivo. O papel do historiador é também, o privilégio de não deixar cair no esquecimento e prestar um tributo às pessoas, que deram o seu melhor, seja em que área for – a história fala-nos de grandes nomes mas também de anónimos como é o caso do “soldado desconhecido”.
Continua a fazer história.
David Guimarães
1 Nov 2014 at 17:19
Raquel Moreira,
O papel do historiador é de facto categorizar, na justa medida, o papel dos indivíduos para o colectivo. Hoje em dia, temos visto inúmeros actores sociais a tentar reescrever a história, adulterando a sua veracidade, pretendendo escapar ilesos às suas responsabilidades. Esse é também o importante papel do historiador, o de não pactuar com os negacionismos de vária ordem que grassam na nossa “fétida” sociedade.
Um beijinho