Desporto
ATLETISMO: “BRONZES” COM FUTURO, “BRONZES” COM SABOR A OURO
Na modalidade de atletismo, Portugal sempre amealhou os melhores resultados em longas distâncias. Apesar de Obikwelu (de origem nigeriana) ter arrecadado a medalha de prata nos 100 metros, em Atenas ’04, de Carla Sacramento (descendente de são-tomenses) ter vencido o Mundial de 1997, na especialidade de 1500 metros e de Rui Silva ter logrado uma medalha de bronze em Atenas ’04 e no Mundial de Helsínquia no ano seguinte, na mesma especialidade de Carla, os maiores atletas portugueses sempre se distinguiram pela sua resistência física, conseguindo triunfar em provas em que o sprint final, quando existe, é “mais alma do que pernas”.
Exemplos disso são os casos de: Carlos Lopes – segundo lugar nos 10.000 metros dos Jogos Olímpicos de Montreal ’76 e vencedor da maratona dos de Los Angeles ’84; Rosa Mota – medalha de bronze em Los Angeles e ouro em Seul ’88, na Maratona; e Fernanda Ribeiro – vencedora dos 10.000 metros dos Jogos Olímpicos de Atlanta’ 96 e bronze em Sidney ‘2000.
Pelo meio, há ainda a destacar Fernando Mamede, que, nos anos 80, originou o famoso “síndrome de Mamede” ao bater inúmeros recordes internacionais (um deles mundial nos 10.000 metros), mas falhando sempre a conquista de medalhas, em grandes provas; Francisco Lázaro que, sendo o principal candidato à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1912, na especialidade de maratona, besuntou-se com sebo, impedindo a transpiração cutânea e acabou por morrer durante a prova; e ainda Manuela Machado, que, durante a década de 90, arrecadou três medalhas (uma de ouro e três de prata) em três edições da Maratona do Campeonato do Mundo de Atletismo, mas nunca conseguiu impor-se nos Jogos Olímpicos.
Ora, após Fernanda Ribeiro, os atletas portugueses iniciaram um período de estagnação nas competições de longa distância, muito por culpa da crescente participação de atletas de origem africana nestas distâncias.
Nos Campeonatos da Europa, temos arrecadado algumas medalhas, mas em campeonatos do Mundo e em Jogos Olímpicos nunca mais voltamos a conquistar um pódio nas especialidades de fundo, que são os 5.000 metros, os 10.000 metros e a Maratona.
No entanto, em 2014, principalmente na prova da Maratona, as atletas portuguesas têm demonstrado todas as suas potencialidades. Em julho, durante o Campeonato da Europa, Jéssica Augusto, que até começou mal a prova, ficando ligeiramente para trás do grupo da frente, conseguiu estabilizar a diferença para as líderes na ordem dos 20 segundos, acabando por ultrapassar aquelas que iam ficando para trás e terminar a Maratona no terceiro posto, com um tempo de 2h25m41s, que lhe valeu a medalha de bronze.
Ora, apesar de ter apenas conseguido um terceiro lugar nos Campeonatos da Europa de Atletismo, onde não participam as papa-léguas atletas africanas, se compararmos o tempo de Jéssica Augusto com as marcas das vencedoras dos Jogos Olímpicos, verificamos que só em três edições a vencedora dos Jogos Olímpicos registou melhor tempo do que Jéssica nestes Campeonatos da Europa. Também é verdade que o recorde mundial da Maratona é de 2h15m25s mas, para além de esse tempo ter sido assegurado há mais de 10 anos e nunca outra mulher ter conseguido aproximar-se dessa marca, os tempos da Maratona, nos Jogos Olímpicos, costumam ser piores que as melhores marcas alcançadas nesse ano.
E mais recentemente, no dia 2 de novembro, Sara Moreira, uma estreante na reedição do trajeto de Fidípedes, quando este viajou da cidade de Maratona até Atenas, para informar que o exército ateniense havia derrotado o Império Persa, logrou um terceiro lugar na famosa Maratona de Nova Iorque. Bem, com o tempo de 2h26m00s, a portuguesa conseguiu, na sua estreia, bater-se com algumas das melhores atletas do mundo e conquistar um lugar no pódio.
Tanto um resultado como o outro foi conseguido em provas menores que os Jogos Olímpicos ou os Campeonatos do Mundo porém, tendo em conta a idade de Sara Moreira (29 anos) e Jéssica Augusto (32 anos), ambas as atletas portuguesas ainda têm, pelo menos, mais 5 anos ao mais alto nível (na Maratona é comum os vencedores terem 30 e muitos anos) e daqui a dois anos, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro ’16, ambas as atletas terão mais experiência, visto que Jéssica Augusto só tem mais três anos de “calo” nesta especialidade que a “novata” Sara Moreira, poderão trazer uma medalha, ou quiçá o ouro para Portugal.
Assim, concluo que estes dois bronzes são bronzes que poderão ter outra dimensão daqui a uns anos – são bronzes com futuro – e estes mesmos bronzes poderão ter outra tonalidade no Rio de Janeiro – são dois bronzes com sabor a ouro.
Paulo Amorim
6 Nov 2014 at 1:00
Mais um artigo fantástico que reacende o prazer pelo atletismo!! Parabéns!
Tiago
6 Nov 2014 at 1:10
Vamos embora Portugal! Vamos por o nome do nosso país na história mais uma vez
David Guimarães
6 Nov 2014 at 1:18
Amigo Afonso,
Por acaso não acho que estas atletas conseguirão chegar ao ouro mas quem sabe… Justo e bem feito levantamento histórico!
Um abraço!