Connect with us

Artigo de Opinião

MURALHA ESPANHOLA PARA PROTEGER O DRAGÃO

Published

on

José Paulo Peixoto

José Paulo Peixoto

Nos últimos 2 anos tenho visto e ouvido as maiores blasfémias e atentados em relação a um futebolista, futebolista esse demasiado reputado para essas mesmas falsidades.

Toda a gente diz o que quer e lhe apetece. Na verdade, todos têm direito a fazê-lo. E é fácil falar quando estamos no sofá a ver TV ou num café a mandar bitaites acerca daqueles que trabalham ao mais alto nível. No entanto, contra tudo e contra todos, ele resiste, levando-me a questionar a credibilidade e força dessas opiniões.

Com apenas 16 anos, Iker Casillas foi chamado para suplente numa partida da fase de grupos da Liga dos Campeões, frente ao Rosenborg. Dava-se a sua primeira chamada à equipa principal merengue. Jupp Heynckes concedeu a esse pequeno prodígio a oportunidade de ocupar o lugar de reserva do mítico Canizares.

A sua estreia no 11 inicial do Real Madrid chegaria com Vicente Del Bosque, na época 1999/2000. Em 2000 tornou-se o guarda-redes mais jovem de sempre a jogar uma final da Champions, num jogo em que o Real venceu o Valência por 3-0.

Casillas dedicou ao clube 25 anos da sua carreira, tendo vencido 5 Ligas Espanholas, 2 Taças do Rei, 4 Supertaças de Espanha, 3 Ligas dos Campeões, 2 Supertaças da UEFA, 1 Taça Intercontinental e 1 Mundial de Clubes. Esse ciclo chega agora ao fim com uma polémica transferência para o Futebol Clube do Porto.

Tenho duas décadas de vida e ouço falar de Iker Casillas desde que me lembro. Para mim sempre foi inquestionável o seu lugar e a sua importância para o Real Madrid, tendo-nos brindado constantemente com boas exibições e defesas ao mais alto nível. Seria então de estranhar esta transferência, já que se trata de um jogador tão bom. No entanto, a meu ver, a explicação para esta mudança prende-se a questões de background e não à qualidade técnica.

O questionamento do qual tem sido vítima e a insegurança que lhe tem sido transmitida por adeptos e adversários podem estar por trás da saída de Casillas. A ida de Keylor Navas para o Real após o mundial do Brasil veio contribuir para essa falta de segurança do guarda-redes, que desde então não recuperou a confiança. Também as constantes desavenças dentro da equipa podem ser um motivo de peso, ainda que não o considere responsável. Penso que Casillas foi um instrumento, um bode expiatório para “desculpar” outros. Sérgio Ramos, Marcelo e Pepe eram e são jogadores vinculados ao rótulo de arruaceiros, impedindo qualquer treinador de ficar 100% descansado. Talvez tenha sido Casillas a encobrir as atitudes reprováveis destes jogadores durante todos estes anos, levando muitas vezes com culpas que não eram suas.

Ora, nenhum guarda-redes no mundo é invencível e o entrosamento com a defesa é essencial para que esta funcione e lhe facilite o trabalho. E faltava claramente essa empatia e funcionalidade na equipa, o que dificultava a performance do guarda-redes e gerava desagrado.

Questões pessoais à parte, o guardião espanhol está agora no F.C. Porto, onde terá mais oportunidade de jogar e de impressionar para garantir lugar na convocatória para o Euro2016, em França.

Os dragões mostraram audácia e eficácia num negócio-relâmpago de enorme prestigio para a marca F.C. Porto.

Começando pelo nível de jogo, a equipa só tem a ganhar. Casillas chega numa idade que corresponde ainda ao intervalo médio do pico de forma para os guarda-redes e detém uma experiência difícil de igualar, o que faz dele uma mais-valia e um adversário de respeito. No que toca ao marketing e merchandising, é igualmente positivo: o jogador traz consigo fãs e meios de comunicação que não estavam de modo algum ligados ao clube e que passam agora a promovê-lo. Pode também potenciar as vendas de equipamentos e material desportivo/dos patrocinadores. É também algo que vem agradar os adeptos e à massa associativa: há muito se esperava a contratação de uma estrela, um jogador com a carreira feita, dotado de prestígio e qualidade a nível mundial.

Desta forma, Iker Casillas trará incontestavelmente qualidade e prestígio ao clube e à cidade invicta. No fundo, “os jogadores passam, os treinadores passam, os dirigentes passam, os adeptos passam, mas o clube fica”. E é com jogadores como este que clubes se tornam imortais.

O Futebol Clube do Porto acabou de fazer história. Assim como Casillas fará história no clube.

Save

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *