Educação

“A PAZ É O CAMINHO DIFÍCIL, O DE ACEITAR AS DIFERENÇAS”

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Vim de Erasmus para Ankara, capital da Turquia. Um país muito diferente do resto da Europa. O desenvolvimento social e tecnológico é semelhante a Portugal ou outro país da Europa, mas as diferenças notam-se assim que se “aterra” aqui. Estou a falar de um país muçulmano com claras influencias europeias. Com paisagens incríveis e pessoas muito acolhedoras.

Tive outros países em mente como a Roménia ou a Polónia, mas o desafio de vir viver seis meses num país claramente diferente, intensificou a chama de curiosidade e aventura que sempre tive. Conhecer a cultura e costumes de um país ainda muito marcado pela religião abriu-me ainda mais o apetite.

Diferenças? Bem para começar só Istambul tem mais 6 milhões de habitantes em relação a Portugal inteiro. Em Ankara são à volta de 6 milhões, portanto aqui o que há mais é pessoas, sempre de um lado para o outro. Dezenas, senão centenas de táxis e autocarros, já para não falar dos Dolmus (os mini-bus). Amarelo e azul são as cores que pintam as estradas. As leis para o trânsito estão muito mal reguladas. Os carros têm prioridade absoluta. Vermelhos e passadeiras só são respeitados nos centros mais movimentados. Motoqueiros andam sem capacete, por passeios e volta e meia veem-se alguns a andar em sentido proibido.

Vivo com um turco e um turco-alemão e está a ser uma experiencia enriquecedora sem dúvida. Já fiz alguns amigos turcos também. Obviamente que a língua é uma barreira gigante, e poucos são os que falam inglês, menos ainda os que o falam fluentemente. Mas o esforço é notório para que a comunicação seja estabelecida. Uma coisa de bom neste pais é que transversalmente as pessoas são bastante acolhedoras e ajudam no que podem. Já tive turcos a levarem-me pessoalmente a algum sítio porque eu não percebia as direções.

Infelizmente a religião, ainda muito marcada na sociedade turca, torna as pessoas mais apreensivas a diferenças, tanto físicas como no que respeita a opiniões. Existem conflitos terroristas no lado este do pais devido ao grupo ISIS. Veem-se muitos refugiados a mendigar na rua. Mães e crianças principalmente. Já fui abordado por crianças com 5 anos ou menos, descalças e sujas. Toca no coração de qualquer pessoa sensível, mas infelizmente é algo que nos habituamos rapidamente de tão comum que é. A relação com os curdos (uma raça diferente na Turquia da qual pouco conhecimento tenho) é bastante conflituosa e geralmente estes são vistos como terroristas, usurpadores e criminosos.

Para alem da guerra na Síria, as opiniões politicas são bastante fortes e cheguei a assistir a manifestações que contam sempre com forças policiais armadas prontas para intervir. No entanto, a população mais jovem (estudantes) é mais “open-minded” e mais curiosa no que toca à vida europeia.

Não ficaria a viver aqui porque seria demasiada confusão para mim. Apesar de estar a abraçar a experiencia ao máximo. Erasmus esta a ser das melhores experiencias da minha vida. Aconselho a qualquer um sair da sua zona de conforto e a aventurar-se a viver num país sem conhecer ninguém.

Sem paz não existe crescimento. A paz é o caminho difícil, o de aceitar as diferenças. Transformamo-nos interiormente para fazermos da sociedade uma casa melhor. A paz vem do amor assim como a guerra vem do medo. E amar é bem mais difícil do que os filmes nos ensinam. Saber amar o próximo apesar dos defeitos. Viver por nós e para os outros e não fazer dos outros algo a mudar. Mostrar as nossas ações sem intenções de mudar alguém, acaba sempre por fazer a diferença por muito pouco que seja.

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