Educação

EXPOSIÇÃO EM GONDOMAR SOBRE ESCOLA NA DITADURA

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Como refere Manuela Oliveira, coordenadora do grupo de História da ESG e uma das responsáveis pela organização do evento, o público-alvo da exposição foi a “comunidade escolar, prioritariamente”, ainda que o referido evento, fruto da parceria com a Câmara, tenha possibilitado a qualquer cidadão visitá-la. O objectivo da exposição passou por, comemorando esta data redonda, “mostrar, sobretudo aos alunos, que Abril tem de estar presente, assim como lembrar os valores que fizeram despoletar a revolução e o que ganhámos a partir daí”.

O espaço projectado na exposição apresenta-nos as carteiras e cadeiras de madeira, baixas e perfeitamente alinhadas, o púlpito onde se situava a secretária do professor, os quadros dos representantes políticos de então ou um crucifixo – enfim, as características de uma sala de aula de uma escola pré-25 Abril. Segundo Manuela Oliveira, as semelhanças entre o ontem e o hoje, neste capítulo, reduzem-se à “existência das carteiras e do quadro negro, que agora já nem é negro”. Aliás, mesmo as carteiras são hoje feitas de outro tipo de material e quanto a tudo o resto “o material escolar é muito diferente: o livro único, os cadernos muito fininhos, a caneta de aparo, a palmatória, a menina dos cinco olhos, … é tudo muito diferente, sem dúvida”.

Tendo como público-alvo preferencial a comunidade escolar e, de forma especial, os alunos, a receptividade em relação a esta exposição do contexto escolar do Estado Novo correspondeu às expectativas. Para Manuela Oliveira, tal foi ainda mais notório em relação a, sobretudo, dois aspectos da exposição: a escolinha do Estado Novo, que “eles não identificam como sendo a escola deles, mas onde gostam de se sentar e folhear os livros”, e duas telas em que constavam fotos da comunidade escolar – professores e funcionários – há 40 anos atrás que gerou imensa curiosidade entre os jovens estudantes.

Nesta exposição foi ainda possível observar objectos que eram parte integrante da antiga capela da Escola – que se situava, justamente, dentro da própria Escola -, e muito característicos da época, como um teclado, um confessionário e vários outros adereços religiosos. Na opinião de Manuela Oliveira, as mudanças não ocorreram apenas ao nível do espaço físico das salas de aula.

Na altura, um professor para ser professor fazia um juramento a Salazar, enquanto nós agora não fazemos juramento nenhum. Para além disso, era impensável dizermos o que dizemos hoje nas aulas no tempo de Salazar. Era uma época em que a ordem e a disciplina imperavam e o ensino funcionava à base do apelo à memória e não à compreensão, e agora nós não ensinámos a memorizar. Aliás, eu mesma como professora de História, ensino a compreender e a relacionar os factos, coisa que ninguém nos ensinava então.

Para além do ambiente de sala de aula, a exposição permitiu a quem a visitou descobrir – ou recordar – livros de leitura e de gramática da época, mas também alguns cadernos escolares dos alunos de então. Mais do que isso, foi também possível ver fotos dos meios de transporte de então, de casamentos e cerimónias religiosas, de desporto ou de militares em combate na Guerra Colonial. No fundo, todo um retrato da época e do contexto pré-25 de Abril.

Da invocação e da comemoração desta data no que diz respeito ao ambiente escolar, fica para Manuela Oliveira um balanço positivo. “Os alunos percebem perfeitamente o que era e o que é. Para além da exposição, tivemos várias palestras, vários momentos em que eles foram percebendo que as coisas são realmente muito diferentes e que não podemos voltar atrás”. Tempos esses em que a escolaridade obrigatória ia apenas até à 4ª classe – apenas um dos muitos dados (estatísticos) também eles presentes na exposição e que retratam a evolução da educação em Portugal.

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