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“FINALMENTE ESTÃO CRIADAS AS CONDIÇÕES PARA QUE A FORMAÇÃO FINANCEIRA PASSE A SER ENSINADA EM TODAS AS ESCOLAS”

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O anúncio foi feito pelo secretário de Estado da Educação, João Costa, no mês passado. “Não nos passa pela cabeça que um aluno passe 12 anos pela escola [do 1º ao 12º ano] sem adquirir conhecimentos relacionados com a formação financeira”, afirmou o governante.

Segundo o jornal Observador, o plano do Governo é formar “ainda este ano” um coordenador para a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento por escola.

Neste momento, a disciplina está presente em 235 escolas – as que aderiram ao projeto experimental Autonomia e Flexibilidade Curricular. Ainda segundo o mesmo jornal online, no próximo ano, a disciplina será alargada a todas as escolas e a formação financeira integrada no programa.

Dados do último relatório do inquérito de literacia financeira da população portuguesa (2016) indicam que cerca de 30% dos portugueses não planeiam o seu orçamento familiar e que 40% dos inquiridos não faz qualquer poupança. Mas, é no conhecimento que os portugueses estão pior: 40% dos portugueses não consegue calcular um juro simples, 80% não sabe o que é um spread e 95% não compreende o conceito de capital garantido de um valor mobiliário.

Para já, ainda não são conhecidos aspetos como a carga horária da disciplina, o programa ou o peso da Formação Financeira no currículo dos alunos, mas a medida está a dar que falar.

Formação Financeira em todas as escolas é “um passo de gigante”

Em declarações ao JUP, Cláudia Ribeiro, professora auxiliar da Faculdade de Economia do Porto (FEP), começou por recordar o trajeto feito até agora para que fosse possível implementar a medida.

“Esta é uma grande conquista da equipa de trabalho do Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF)” afirmou. Segundo a docente, ações como a definição de um Referencial de Formação Financeira para as escolas de ensino obrigatório, a formação de professores e o desenvolvimento da plataforma TodosContam constituíram “importantes passos intermédios” para que “seja possível o passo de gigante anunciado”.

Para a professora, o anúncio feito pelo secretário de Estado da Educação demonstra que “finalmente estão criadas as condições para que a Formação Financeira passe a ser ensinada em todas as escolas do país”.

Estudantes da Universidade do Porto com baixos níveis de literacia financeira

Questionada sobre os conhecimentos financeiros dos estudantes quando chegam à faculdade, Cláudia Ribeiro assume que, enquanto docente da FEP, não está em contacto com uma amostra representativa dos estudantes em geral.

Contudo, a docente apresentou ao JUP as conclusões de uma dissertação de mestrado em Finanças desenvolvida há 4 anos, que avaliou a literacia financeira dos estudantes da Universidade do Porto – a amostra contou com 652 estudantes.

A principal conclusão é que, de uma forma geral, os estudantes inquiridos apresentam níveis de literacia financeira baixos, ou seja, têm poucos conhecimentos sobre finanças. Apesar disso, têm bons comportamentos e atitudes financeiros – o índice de comportamentos financeiros foi de 74% e o de atitudes financeiras de 77%. Já a média de conhecimentos financeiros ficou cerca de 20 pontos percentuais abaixo, com 58%.

“A Educação Financeira tem estado na agenda pública”

Cláudia Ribeiro defende a importância dos jovens portuguesa adquirirem conhecimentos na área das finanças como meio de “tomada de decisões mais informada, (…) promoção de comportamentos responsáveis” e assinala ainda o contributo deste conhecimento para “a melhoria do bem-estar financeiro dos indivíduos e das famílias”.

A docente afirma que “desde a crise financeira internacional de 2008 a Educação Financeira tem estado na agenda pública”. Como tal, o envolvimento dos cidadãos com as finanças tem aumentado.

Numa breve análise aos dados do último relatório do inquérito de literacia financeira portuguesa, a docente reconhece que, apesar de ainda haver aspetos a melhorar foram “registadas algumas melhorias face aos resultados do mesmo inquérito em 2010”.

Quanto aos conteúdos que a disciplina Cidadania e Desenvolvimento vai conter no programa de Formação Financeira, Cláudia Ribeiro recorre ao Referencial de Formação Financeira, já estabelecido pelo PNFF, que propõe seis temas: o Planeamento e Gestão do Orçamento, Sistemas e Produtos Financeiros Básicos, Poupança, Crédito, Ética e Direitos e Deveres.

Para a professora, a aposta na formação financeira dos jovens portugueses é vista com bons olhos: “os cidadãos estarão em melhor posição para tomar as suas decisões de natureza financeira de forma mais informada e responsável, e dessa forma contribuindo para a melhoria do seu bem-estar financeiro”.

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