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Crónica

Há um ano, tudo mudou

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O mundo à nossa volta corria a passadas largas, mas ainda não tínhamos percebido muito bem o que se estava, realmente, a passar. Em todo o lado, a palavra “coronavírus” ecoava, deixando o seu impacto. Mas para nós, meros estudantes universitários, era um susto que ainda não tinha chegado bem ao entendimento. Não só aos estudantes. Uma grande parte dos portugueses parecia renitente em aceitar o que se passava: estávamos a entrar numa pandemia.

A memória parece querer fazer esquecer o passado. Aquele em que podíamos abraçar, beijar, estar com a família sem medo. Em que não precisávamos das máscaras ou dos desinfetantes. Mas uma memória que não escapa é a do dia 11 de março, o dia em que na nossa caixa de correio caiu o email da Universidade do Porto a anunciar a suspensão das aulas presenciais. A partir do dia 12 nunca mais nada foi igual.

À época, parecia impossível, quase que um sonho tornado realidade – ter aulas no conforto de nossa casa. Quem não queria, certo? Acredito que nenhum estudante estava verdadeiramente a par da situação, da gravidade do que pairava sobre nós.

Volvido um ano, com a cabeça mais fria, corpo calejado do cansaço psicológico de passar um dia em frente ao computador, e com um canudo de fim de licenciatura quase na mão, posso admitir que ninguém sabia o que nos esperava.

A pandemia roubou-nos experiências, momentos, memórias que nunca vamos poder recriar. Duas queimas das fitas, dois cortejos, momentos em turma, amigos, saídas à noite e loucuras – as atividades “normais” de um aluno universitário. Mas tirou-nos tão mais do que isso.

A adaptação ao ensino online não foi fácil, quer para alunos ou para professores. Lembro-me de ter um dos grandes “cadeirões” do meu curso via “Zoom” e de meter as mãos à cabeça porque não conseguia estar concentrada. Porque tudo em minha casa era mais interessante do que estar atenta a um ecrã plano, com uma voz de fundo, que me tentava passar matéria. Apesar de ainda termos regressado à faculdade por umas semanitas presenciais, ainda custa ser obrigada a estar a olhar para a “caixa mágica” oito horas por dia.

O ensino online foi-nos imposto, a alunos e professores, sem estarmos preparado para ele. A nós, geração digital, entendam-se. Aos professores, desenrasquem-se. 

O ensino prático, que veemente defendo, especialmente durante a licenciatura, perdeu-se. Como vou recuperá-lo? Ainda não descobri. Tal como ainda não sei estar à frente do computador atenta o número de horas que me exigem estar. Mas o Zoom? Esse já sei usar, e bem.

Agora sou finalista. Estou a meses de ter o meu diploma na mão, sair pelas portas da emblemática Universidade do Porto e atirar-me… para um mestrado? Uma pós-graduação? Talvez seja melhor ir já trabalhar. A verdade é que não sei. Isto porque estou ciente do que a pandemia me fez perder, do que estas adaptações ao ensino não me conseguiram ensinar. Sou finalista e não sei que passo tomar a seguir. Mas este último ano, futuramente ano e meio, da minha licenciatura não vou esquecer. Os motivos é que não serão os melhores.

Artigo da autoria de Rita Magalhães