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Educação

Portugal perdeu 10 mil professores na última década

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Motivos

Ao DN, ex-professores explicaram que as circunstâncias atuais que envolvem o desempenho da sua antiga profissão os levaram a abandonar o ensino. Como as principais razões, apontam a instabilidade da carreira, o excesso de burocracia, a perda de autoridade e o elevado número de alunos por turma.

Para além dos baixos salários, os docentes queixam-se das colocações longe de casa, que comportam custos adicionais de transporte, e, por vezes, de alojamento. Foi esse o caso de Ricardo Cabral, que revelou ao DN que “A principal razão da minha saída foi, no ano letivo 2013-2014 só ter conseguido colocação em fevereiro e muito distante da minha residência (mais de 350 km). Essa originou outra, que foi o baixo rendimento. Tive de arranjar alojamento no sítio onde dava aulas, e só o alojamento levava quase metade do meu rendimento. Com duas crianças pequenas, obviamente que vinha todos os fins de semana a casa, o que originava mais despesas em combustível, portagens, etc.”.

Também Susana Azevedo enfrentou o problema das colocações. Foi aí que decidiu que a sua prioridade era a família e, portanto, deixou a profissão para trás: “Como professora contratada a colocação em cada escola era temporária, sempre por substituição. Mantive-me nesta situação até 2011. Ainda integrei o IEFP, como formadora, até finais de 2012. Após essa altura, já com dois filhos, sem apoio familiar próximo e com o marido com um emprego com limitações à vida familiar (agente da PSP), concorrer para longe tornou-se impossível e próximo da área de residência não conseguia colocação”.

Os ex-docentes acreditam também, segundo o Diário de Notícias, que tem vindo a ocorrer uma crescente descredibilização desta profissão, resultante da falta de respeito pelos professores por parte dos alunos e pais. A esse problema aliam-se a progressão lenta de carreira e a instabilidade, algo que leva Luís Sottomaior Braga, professor de História e Geografia de Portugal, a crer que “Os políticos degradaram, com ação política intencional, a imagem social dos professores. Qualquer professor sabe que outros profissionais acham legítimo e normal dizer coisas negativas da nossa profissão. Uma profissão desprestigiada não é atrativa. E os próprios professores dizem, e com razão objetiva, a jovens para não se deixarem seduzir pelos encantos deste ofício: é mal pago, tem horários excessivos, está carregado de burocracia inútil, é instável, implica trabalhar longe da família e anos de precariedade sem garantias”.

A abundância de burocracia que ser professor envolve é apontado também como um dos maiores obstáculos à permanência dos profissionais no ensino, porque os sobrecarrega com trabalho, como explicou, ao DN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas:  “É preciso tornar a profissão menos burocrática, pois o professor trabalha muito mais do que 35 horas semanais em virtude da imensa burocracia, e é necessário torná-la mais atrativa em termos salariais, bem como conceder mais autoridade aos professores e diminuir o número de alunos por turma”.

Mário Nogueira, líder da FENPROF, confessou à SIC, quanto aos professores que têm abandonado a carreira, que o Ministério da Educação “não tem feito rigorosamente nada para os recuperar”. Segundo André Pestana, coordenador nacional do Sindicato de Todos os Professores, as principais soluções seriam “a atribuição de um subsídio de transporte e/ou alojamento como acontece com outras profissões; um efetivo combate à precariedade docente; medidas para a diminuição do desgaste/exaustão docente e uma gestão democrática

O salário de um professor contratado

De acordo com a reportagem do Diário de Notícias, o vencimento-base de um professor contratado, isto é, em bruto, é de 1536,90 euros, ao qual acresce o subsídio de refeição, no valor de 4,77 euros por dia. Elisabete Zagalo e David Caldas, ambos professores revelaram, à SIC, respetivamente, que o “salário de um professor não chega para pagar combustível, pagar viatura própria, porque muitas das escolas não ficam em lugares com serviços de transportes públicos. Não chega para pagar alojamento. Não chega para formar família.” e “Atualmente, ganho menos do que quando comecei há 21 anos.”

O Ensino Superior na Educação

Nos últimos vinte anos, o número de estudantes universitários inscritos em cursos relativos à Educação caiu cerca de 75%, revelou o DN. No que diz respeito às aposentações, a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) estima que até 2030, vão reformar-se quase 60% dos docentes ativos neste ano letivo, sublinhou o Diário de Notícias.

 

Escrito por Ana Francisca Silves Pires Maio.

Revisão por Beatriz Oliveira.