Ciência e Saúde

Ensino superior no governo. Uma novidade e uma falsa partida

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A divulgação dos resultados das eleições legislativas, que foram repetidas no círculo eleitoral da Europa e permitiram encerrar a composição final da Assembleia da República – com mais dois deputados para o Partido Socialista, encetaram uma nova fase do processo político que sucede ao sufrágio: a composição do novo governo.

Nas últimas semanas, começaram a avolumar-se fugas de informação repercutidas na comunicação social sobre o número de ministérios do novo governo, os que se iriam agregar e ganhou força a especulação sobre os ocupantes das “cadeiras do poder”.

Novidade: “Mãe” do transístor de papel é a nova ministra

A nova ministra recebeu o prémio Blaise Pascal em 2016. Foto @Facebook de Elvira Fortunato

Ciência, tecnologia e ensino superior foi uma das áreas ministeriais onde menos se veicularam nomes ministeriáveis. O reitor honorário da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, mas também o atual secretário de Estado do MCTES, João Sobrinho Teixeira e a cientista e vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa, Elvira Fortunato – que acabou por ser escolhida pelo primeiro-ministro, foram as personalidades apontadas ao cargo.

Elvira Fortunato é, assim, a nova ministra do MCTES. Aos 57 anos de idade, a professora catedrática no departamento de ciência dos materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, suspende uma carreira internacional amplamente premiada para definir os caminhos da investigação e do ensino universitário, para os próximos 4 anos.

A diretora do laboratório associado Instituto de Nanomateriais, Nanofabricação e Nanomodelação da Nova de Lisboa tem estado próxima de algumas organizações governamentais e até integra a Chancelaria das Ordens Honoríficas de Portugal, mas nunca tinha ocupado cargos políticos até então.

Natural de Almada, Elvira Fortunato tem longa carreira na área da investigação e registou já mais de meia centena de patentes. É pioneira na investigação para a utilização de soluções materiais amigas do ambiente em eletrónica. Inovou, em 2008, ao desenvolver o primeiro transístor em papel que permite levar para o digital jornais e revistas em papel, e é aplicável também a produtos farmacêuticos, embalagens inteligentes e microchips. Tudo descartável, sem prejudicar o ambiente.

 

Condecorada, em 2010, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, recebeu mais de 30 prémios e distinções internacionais pela sua carreira de investigação. Em 2020, a investigadora recebeu o Prémio Pessoa 2020 atribuído pelo Semanário Expresso e pela Caixa Geral de Depósitos, mas foi em 2008 que recebeu o maior prémio de sempre atribuído a um cientista português – 2,5 milhões de euros, atribuídos pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC).

Elvira Fortunato concedeu uma entrevista ao Observador, em 2018, onde defendeu que o “nível de burocracia na investigação é horroroso”.

Falsa partida: Ciência, Tecnologia e Ensino Superior mantêm autonomia

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) foi um dos que esteve na calha para se agregar a outro ministério, o da Educação. Essa possibilidade nunca foi assumida pelo governo, mas levou 12 federações e associações académicas de todo o país a unirem-se e dirigirem uma carta aberta ao primeiro-ministro com um apelo para a manutenção da ciência, da tecnologia e do ensino superior como área ministerial autónoma. As últimas notícias confirmaram a satisfação da vontade das entidades que representam os estudantes e o MCTES manteve-se, como no governo anterior.

A divulgação da composição dos ministérios e das secretarias de estado gerou um foco de tensão entre o primeiro-ministro e o presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se incomodado com as fugas de informação que permitiram conhecer o novo governo antes da lista chegar às mãos do chefe de Estado.

 

Artigo escrito por: Tiago Oliveira

Editado por: João Múrias

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