Educação
Educar é Semear: Maria Inês Camelo e o voluntariado
Maria Inês Camelo, que frequenta o Mestrado em Economia e Gestão de Recursos Humanos da Faculdade de Economia (FEP), é experiente em ações de voluntariado, entre as quais se contam projetos de ajuda alimentar ligados à Cruz Vermelha, ações de ajuda humanitária no contexto da guerra na Ucrânia e ainda o seu envolvimento na associação estudantil Semear Futuro, com alcance internacional. A 10ª edição do Prémio Cidadania Ativa reconhece o trabalho desta estudante e o impacto das suas ações.
Compreendemos imediatamente, na conversa com Maria Inês, que o mundo do voluntariado não é novo para ela. “Estou habituada a lidar com vários contextos de voluntariado desde que tenho cinco anos. (…) Sempre gostei de estar envolvida em todo o tipo de projetos, fosse com animais, crianças ou adultos.” No entanto, foi a partir dos seus 18 anos, quando, cumprindo um sonho de criança, se inscreveu na Cruz Vermelha, que se conseguiu dedicar de forma mais séria a ações de voluntariado.
Desde que ingressou nesta associação, a estudante tem participado em iniciativas de ajuda alimentar, tais como a elaboração de cabazes para entrega a famílias carenciadas ou a distribuição de refeições ao domicílio a idosos. Reconhece este tipo de experiência como gratificante, pois permite o contacto direto com as pessoas visadas. “Acho que isso torna a experiência toda mais impactante”, comenta.
Uma outra ação de voluntariado surgiu quando a guerra na Ucrânia começou a dominar os noticiários, o que se traduziu, para Maria Inês, numa necessidade concreta de ajudar. “Detesto sentir esta coisa de impotência”, afirma. “Temos acesso a essa informação; por que não tentar fazer algo para modificar esta realidade?” A estudante organizou pontos de recolha de bens de primeira necessidade pela sua vizinhança e o resultado excedeu as suas expectativas. “Quando dou por ela, tenho não sei quantos vizinhos a bater-me à porta, a entregar sacas cheias de roupas, alimentos, etc.”. Sobre esta adesão, Maria Inês acredita que refletiu a vontade das pessoas de “querer ajudar e fazer a diferença”.
Ao longo do seu percurso, tem tido a oportunidade de participar em várias outras iniciativas, como os projetos Muda na Escola, Porta Solidária e GASPORTO. No entanto, foi na associação Semear Futuro que Maria Inês descobriu o voluntariado internacional. “Sempre foi algo que quis fazer; era algo que estava na minha bucket list”, conta a estudante.
A Semear Futuro, apoiada pela Escolaglobal, tem uma parceria com a Câmara Municipal do Tarrafal, para promover a educação numa das zonas mais pobres de Cabo Verde. “Acreditamos que investir na educação é mudar vidas e reverter um dos motivos estruturais que mais fortemente conduz à pobreza” – são afirmações da página do LinkedIn da associação, referentes à visão geral pela qual se rege.
Vários aspetos deste projeto despertaram o interesse de Maria Inês, justificando a escolha de participar no mesmo. Por um lado, o facto de ser gerido por jovens universitários do Porto, ou seja, do mesmo contexto e faixa etária – “todos juntos a tentar lutar pelo mesmo”. Por outro lado, a duração mínima do voluntariado, de pelo menos um ano, que garante um envolvimento pessoal que torna a experiência mais marcante.
Partindo de vários meses de preparação, com angariação de fundos e estabelecimento de parcerias, o impacto da associação culmina em duas vertentes principais: a mobilização de recursos, tais como material tecnológico, e a formação de crianças, jovens e adultos sobre temas diversos, que passam por Inglês, Educação Financeira, Marketing Digital, Excel, Sustentabilidade Ambiental ou mesmo sobre os vários programas e bolsas que existem para estudar na Universidade do Porto. As formações disponíveis são sempre adaptadas às especialidades e preferências dos voluntários.
Maria Inês, agora coordenadora do departamento de Relações Externas, ingressou na Semear Futuro no ano em que foram introduzidas as formações online, não em substituição, mas como complemento às do terreno. “Achamos que era importante que o nosso impacto fosse algo contínuo”, explica, o que se tornava inviável com apenas algumas semanas de formações presenciais anuais.
“Saí de lá com muito mais do que realmente poderia ter dado.”
A estudante lembra que a realidade vivida em Cabo Verde é muito diferente da de Portugal. Porém, apesar das dificuldades económicas das pessoas, sentiu por parte das mesmas uma grande recetividade e vontade de aprender, que não tem dúvidas que enriqueceu a sua experiência. “Saí de lá com muito mais do que realmente poderia ter dado”, garante.
Para Maria Inês, a atribuição do Prémio Cidadania Ativa ao seu trabalho foi algo inesperado, mas positivo. “Pode ser que isto também venha a inspirar outras pessoas a querer fazer algo neste sentido”, reflete.
A entrevista completa de Maria Inês pode ser assistida no canal de Youtube do JUP.
Para saber mais sobre a Semear Futuro, pode visitar as redes sociais da associação (Facebook, Instagram e LinkedIn).
Artigo escrito por: Ana Pinto
Editado por: Inês Miranda
Conteúdo Multimédia por: Ana Costa (vídeo e fotografia)