Educação
Mais professores e maior carência de docentes: o paradoxo do ensino público português
Um novo estudo da Fundação Belmiro de Azevedo revela que 11 mil professores faltam diariamente no ensino público português, num total de dois milhões de dias de faltas por ano, devido a baixas médicas da classe docente envelhecida.
A Fundação Belmiro de Azevedo, através da iniciativa EDULOG, realizou um estudo sobre a realidade demográfica e laboral dos professores do ensino público em Portugal entre os anos letivos 2016/17 e 2020/21, cujos resultados foram divulgados no final de janeiro. Os dados obtidos permitem apontar uma série de tendências e desafios enfrentados pelos docentes.
A principal conclusão é que todos os dias existem 5 000 turmas em que pelo menos um professor está a faltar sem ter quem o substitua, sendo a doença continuada o fator que melhor explica os 9% da taxa de absentismo. Em declarações ao Diário de Notícias, Isabel Flores, coordenadora do estudo, esclarece que “Ao longo do ano, é preciso substituir 20 por cento dos professores, o que corresponde a 25 a 30 mil docentes”.
O valor da taxa de absentismo exprime-se na possibilidade de os professores a partir dos 62 anos apresentarem faltas de longa duração. Ou seja, “cerca de 70% das faltas de longa duração ultrapassam os 4 meses e, dentro destas, 70% estão relacionadas com doença continuada”, como evidencia o documento EDULOG.
Para além disto, no ano letivo 2020/21 a idade média dos docentes em todos os graus de ensino era superior a 50 anos. Desta forma, verifica-se um envelhecimento no ensino, uma vez que a idade média da população empregada em Portugal é de 48,7 anos. Como forma de justificar este fenómeno, a coordenadora do estudo explica que “Em Portugal, os professores não abandonam a profissão. O envelhecimento é consequência desse comportamento… ser professor é uma profissão para a vida”.
Apesar do aumento de 6% no número total de docentes no período de análise, o crescente número de alunos sem docente tem aumentado devido a dois fatores. Por um lado, a redução do número de horas de componente letiva por professor, resultado do aumento da idade docente. Por outro, o aumento da carga letiva dos alunos. Deste modo, verifica-se uma situação paradoxal, na qual a procura por professores aumenta apesar do crescimento do número total de docentes.
Os dados apresentados realçam a realidade do sistema de ensino do país e destacam o alto índice de falta de professores.
Para aceder ao estudo completo, clique aqui.
Para mais informações sobre a iniciativa EDULOG e os trabalhos desenvolvidos no âmbito do estudo da Educação em Portugal, consulte o site oficial.
Artigo por: Mariana Dias
Editado por: Inês Miranda e Joana Monteiro