Educação
ERASMUS – ATENAS, GRÉCIA
Como é que se explica a vivência de um sonho?
Há um ano parti para a maior aventura que uma miúda poderia ter com 19 anos. Há um ano peguei em toda a coragem que tinha e apresentei-a ao meu entusiasmo; tentei deixar em Portugal qualquer tipo de medo e dúvidas… mas.
Mas – e o papel do “mas” é tão incrível – o bom supera sempre o mau, independentemente da sua medida. Porque só sei guardar os sorrisos e só me sei rir do que correu mal.
Escolher um país como casa é difícil. Ser de cá é fácil mas decidir ficar é ainda mais pois a zona de conforto é o melhor sofá de sempre e está sempre a chover lá fora. Mas chega o dia que não queres saber se tens guarda-chuva e até sais de chinelos; és capaz de ficar estático debaixo da chuva enquanto os outros te dizem para voltares para o sofá.
Ir para a Grécia foi isso: sentir a chuva tantas vezes – quando pensei que teria de voltar para Portugal mais cedo, quando pensei que iria ter de repetir as cadeiras e ficar retida no segundo ano, quando as manifestações eram assustadoras, quando, quando, quando… – e saber que no dia a seguir ia estar sol. E esse sol aqueceu-me muito mais; e passou tantas vezes de metafórico para real que era o verdadeiro paraíso na terra.
Vi o pior e, assim, reconheci o melhor. Vi a pobreza e percebi a sorte. Vi manifestações e a forma absurda como são controladas pela polícia e abafadas pelos media e percebi a hipocrisia. Vi como é viver desanimado e sem esperança e percebi como é estar morto por dentro. Assimilei e tornei-me, segundo a lógica disto, mais adulta.
Conheci as pessoas mais humildes e as ilhas com o mar mais azul. Fugi de alforrecas e de polícias. Vi filmes e séries como nunca antes porque a vida louca precisa de descanso. Trouxemos margarina em vez de manteiga e confundimos todos os tipos de iogurtes – nunca comi um iogurte grego de jeito!
Nunca besuntei pão em tanto azeite e tive a minha dose de azeitonas. O queijo é o verdadeiro mel e o pepino engana a quantidade de pão ingerida. Fico com olhos de bebé a olhar para a Acrópole e para o monte perto de casa que nos proporcionava a melhor vista da cidade.
O pôr-do-sol de Atenas é muito especial: garanto que é desenhado pelos deuses todos os dias com aguarelas de amarelo-torrado e um laranja que nunca consegui ver antes; não é uma questão de “o meu é melhor que o teu” – lá o sol vai-se embora e impõe o romantismo. É mil coisas.
Acima de muita coisa: aprendi o que é respeito e que a minha luz depende muito da luz dos outros. E que precisamos de ver essas lâmpadas todas para sermos e estarmos em pleno. Aprender a viver com outros é aprender a viver com loiça suja e sem os cogumelos que tinhas programado comer naquela noite. Consegui ver que a barreira da linguagem nos conseguia unir nas fragilidades que todos sentíamos. Vi a coragem de professores que queriam que os alunos visitantes tivessem a melhor experiência possível e eles viram a cara do desespero frente a frente com a nossa.
Em Atenas, consegui perceber que tudo é possível – bom ou mau. Ou falas muito alto ou não falas. Ou protestas a sério ou ficas. Ou besuntas o pão ou não. Ou fumas dois maços por dia ou não fumas de todo. E é no meio destes extremos que os de fora aprenderam a viver em Atenas; algures a meio senti o conforto e voltei ao meu sofá imaginário – era mesmo confortável mas eu conseguia sempre sair de casa. E aí está o que aprendi.