Ciência e Saúde

Saúde Digital e Inovação Biomédica, uma nova licenciatura na FMUP

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Imagem: National Cancer Institute (Unsplash)

No próximo ano letivo, a Licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica entrará em funcionamento na Faculdade de Medicina. O Professor João Fonseca, diretor da licenciatura, concedeu uma entrevista ao JUP e falou sobre o novo curso com cerca de 40 vagas e ligações entre várias faculdades. A apresentação pública realizou-se no dia 17 de maio.

 

A licenciatura terá uma duração de três anos (6 semestres – 180 ECTS). Os dois primeiros anos serão comuns a todos os alunos e abrangerão áreas como a Informática, as Ciências de Dados, a Biologia Humana, a Medicina Clínica e Serviços de Saúde e a Gestão.

O último ano será um ano de especialização e contará com quatro ramos possíveis, dos quais cada estudante selecionará um. Análise de Dados e Inteligência Artificial, Investigação Biomédica e Bioinformática, Sistemas de Informação em Saúde e Telessaúde e, ainda, Investigação Clínica e Gestão de Inovação em Saúde são os percursos oferecidos.

Os primeiros ciclos devem ser abrangentes e permitir depois ao estudante evoluir nos segundos ciclos ou no trabalho em áreas mais específicas” defende o diretor da licenciatura. Refere ainda que se trata de uma “licenciatura de banda larga” e que não pretende “criar um tipo de técnico específico”. Quando questionado sobre a possível falta de conhecimentos destes futuros alunos, como resultado de multidisciplinaridade, o professor responde dizendo que houve um trabalho grande, quer na construção das unidades curriculares e dos seus objetivos e dos seus conteúdos, quer na articulação entre as unidades curriculares da mesma área. Mostra-se confiante ao afirmar que a ausência quer de conhecimentos, quer de aptidões, não vai ser um problema, ainda que seja necessária uma rápida evolução do curso. O segundo e terceiro anos ainda se encontram em fase de construção.

O curso aponta como saídas profissionais: Hospitais e outras Unidades de Saúde, Indústria Farmacêutica e de Dispositivos Médicos, Empresas de Informática e Tecnologias Digitais, Laboratórios de Investigação, Ensino Superior, Consultoras, Entidades Reguladoras da área da Saúde e também Organizações Governamentais e Políticas. João Fonseca receia que a principal dificuldade seja social: “É uma coisa tão nova que não tem um nome. A pessoa não é médica, não é advogada, não é engenheira”. Mas acredita na abertura de vagas em instituições públicas e confia na vontade que estas demonstram em captar estes profissionais. A SPMS e o INFARMED, parceiros da licenciatura, são dois nomes referidos. 

O estado atual do SNS, a saúde em Portugal e o papel destes futuros profissionais também foram assuntos em destaque. O também docente na Faculdade de Medicina reconhece que os serviços públicos poderão ter dificuldades em atrair estes licenciados, pela possibilidade de haver privados que ofereçam melhores condições, mas afirma que estes estudantes poderão, mesmo assim, ter um impacto positivo no sistema de saúde português. 

Os alunos do ensino secundário interessados deverão apresentar, como provas de ingresso, os exames de Matemática e de Biologia e Geologia, com classificações mínimas de 14 valores. Para esses alunos, o professor deixou uma nota especial: “Se quiserem realmente ser inovadores, se quiserem ajudar a construir o futuro da saúde, acho que devem escolher [esta licenciatura]. Isto aqui é para quem quer ir para a frente e quer mudar o mundo, neste caso, mudar o setor da saúde.”.

João Fonseca garante que se trata de “uma licenciatura muito inovadora” que tenta “responder às necessidades que, cada vez mais, se sentem em todo o setor da saúde” e que permite “aliar componentes de formação tecnológica” ao “conhecimento clínico e dos serviços de saúde”. Ao longo da entrevista, sublinhou ainda a vontade de formar profissionais que desenvolvam “soluções inovadoras, em particular, soluções digitais, mas também de todo o resto, da parte da biomedicina em geral, portanto, a área das ciências da vida aplicadas à saúde”. Embora reconheça a existência de cursos com formações nas áreas tecnológicas e nas áreas das ciências da vida, o responsável do curso aponta o desconhecimento da vivência clínica e dos serviços de prestação de cuidados de saúde, como problema desses cursos, motivado pela “época em que foram criados”. Os estudantes da nova licenciatura terão contacto com serviços clínicos através de estágios de observação.

Em conversa com o JUP, o responsável pela licenciatura reiterou a ideia da novidade, até a nível internacional: “o curso, como está montado, com esta abrangência e desta maneira, não existe noutros países”. Diz que os problemas da área da saúde têm que ver mais com a humanidade e o progresso das ciências do que com questões locais, embora estas também sejam importantes. “De facto, o curso internacionalmente faz sentido”, conclui.

O professor não afasta a ideia de ter, no futuro, uma turma de base de língua inglesa “quer para estrangeiros, quer para portugueses que prefiram ter desde logo a capacidade mais direta”.

Embora sediado na FMUP, o curso conta com a parceria da Faculdade de Ciências (FCUP), da Faculdade de Farmácia (FFUP), do Instituto Superior de Engenharia (ISEP) e da Escola Superior de Enfermagem (ESEP). Também haverá uma ligação com três Laboratórios Associados do perímetro da Universidade do Porto:  Rede de Investigação em Saúde (RiSE), Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).

O estabelecimento de consórcios foi um desejo desde início, garante o diretor do novo curso, mas não esconde as dificuldades: “nós tínhamos que fazer aquela candidatura naquele momento e é sempre difícil estabelecer parcerias com timelines curtos, principalmente, quando esses timelines são no verão.”. Naquele time frame e com aqueles interlocutores não foi possível, diz João Fonseca, para justificar a ausência de economia e de engenharia como unidades orgânicas. Admite que a gestão de salas de aula foi desafiante, mas no fim “foi possível acomodar com bastante imaginação”.

A recente formação em Saúde Digital e Inovação Biomédica é financiada pelos fundos do programa «Next Generation EU» do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e tem cerca de 50 parceiros que incluem o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), o IPO-Porto, a ULS de Matosinhos, a ULS do Nordeste, a Direção Executiva do SNS, a CUF e outros. 

Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi o primeiro a participar na sessão de abertura e refletiu sobre a competitividade da academia do Porto através da união do Politécnico e da Universidade. Já no fim da sua intervenção, desejou que o curso apresentado, que é “uma licenciatura da academia”, seja “fazer caminho, sendo pioneiros, sendo líderes”.

Para informações adicionais sobre a nova licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica, consulte o site oficial.

 

Artigo por: Gabriel Santos 

Editado por: Ana Pinto e Joana Monteiro

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