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Desporto

A paragem temporária da 2ª Liga Portuguesa que se tornou permanente

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A 12 de março, a Federação Portuguesa de Futebol suspendeu por tempo indeterminado todos os campeonatos da sua tutela, entre os quais a Liga Ledman Pro, a segunda divisão do futebol português. Com a incerteza em relação a uma possível retoma, os jogadores foram acompanhados de maneira a preparar o reatar do mesmo ou o próximo campeonato. 

Pedro Ferreira, médio de 20 anos da União Desportiva Oliveirense, explica que “a partir do momento em que os treinos foram cancelados, houve um acompanhamento diário por parte da equipa técnica a nível físico, psicológico e nutricional”. A equipa técnica demonstrou ser muito importante na adaptação aos treinos em casa e, segundo Rui Correia, defesa central de 30 anos do Nacional da Madeira, esta forneceu ao plantel todas as ferramentas necessárias para os jogadores estarem em boa forma durante a quarentena e para o possível regresso do campeonato.

A paragem momentânea da Liga Ledman Pro acabou, no entanto, por provocar danos financeiros e psicológicos às diversas equipas. Afonso Brito, médio de 21 anos do Clube Desportivo Feirense, considera que todos os intervenientes foram prejudicados com esta paragem inesperada do campeonato.

“Para nós, jogadores, foi um golpe muito duro, sobretudo a nível psicológico, porque andávamos a preparar-nos durante quase um mês e meio para o regresso à competição, a trabalhar todos os dias em casa com planos fornecidos pelo clube, e subitamente todo esse trabalho caiu por terra por uma decisão que, a meu ver, é no mínimo insólita”, lamentou o atleta do Feirense.

Além das dificuldades a nível desportivo, também a nível financeiro as equipas sentiram os efeitos da decisão. Para o central dos Nacionalistas, as dificuldades financeiras abrangeram todos os clubes sem exceção, “uma vez que foram obrigados a parar por completo”. “Os jogos deixaram de ser transmitidos na TV e houve um corte a nível financeiro de acordos entre operadoras e clubes.” 

Miguel Fernandes, administrador da SAD do Feirense, confirmou que o clube de Santa Maria da Feira decretou o regime de lay-off para reduzir os gastos provocados pela pandemia da COVID-19. O dirigente diz que “quando a próxima temporada começar e se a bola rolar dentro do campo não vão existir efeitos financeiros negativos”, uma vez que “os encaixes financeiros com mais peso para os clubes, nomeadamente os direitos televisivos e as apostas online, voltam a estar ativos”.

Não obstante, Pedro Ferreira conta que a paragem do campeonato acabou por prejudicar desportivamente a Oliveirense, pois vinham de uma boa série de resultados: “com o regresso ao nosso estádio, os jogos estavam a sair melhor, a equipa estava confiante, algo que infelizmente não teve continuidade devido a decisões administrativas que ainda hoje estamos por perceber”.

Rui Correia. DR

 A 5 de maio, a Federação Portuguesa de Futebol dá como terminada a época de forma precoce, decisão que foi bastante difícil de aceitar, afirma Afonso Brito. “Sou jovem, tenho muita vontade de treinar e de evoluir, e estar privado de fazer o que mais gosto, sobretudo desta forma, tem sido algo muito difícil de aceitar”, sublinha o médio do Feirense. Ainda assim, o atleta de 21 anos olha para esta paragem de uma forma otimista e construtiva. Já para o jovem da Oliveirense, que não pisa os relvados desde agosto devido a uma rotura de ligamentos, esta paragem ajudou-o a “recuperar o tempo perdido”.

De forma expectável, a decisão de dar por terminada a época está longe de ser consensual. Jogadores, presidentes, dirigentes e a maioria dos envolvidos na Liga Ledman Pro mostraram desde cedo o seu descontentamento. O jogador da equipa de Santa Maria da Feira diz que a decisão foi tomada precocemente e que não foram tidos em causa valores do desporto. Afonso Brito considera ainda que existiam “condições do ponto de vista das infraestruturas para levar a cabo o término da 2ª Liga” e que “não existem argumentos válidos que sustentem este final”.

 “Não creio que tenha existido sequer algum diálogo entre os órgãos competentes e os clubes da 2ª Liga no sentido de serem estabelecidas medidas que permitissem terminar o campeonato sem comprometer a saúde dos atletas e intervenientes”, admitiu o atleta. 

Como Afonso Brito, também o médio do Oliveirense não concordou com o término e traçou uma comparação com a Liga NOS e com o que se fez noutros países. “O fim do campeonato da Segunda Liga apenas teria sentido se a Primeira Liga tivesse terminado também, pelo que na minha opinião não foi justa a decisão. É uma falta de respeito para todos os profissionais que estão envolvidos na 2ª Liga. Como se está a ver atualmente na Alemanha, as três divisões profissionais retomaram os jogos há mais de duas ou três semanas e tem corrido tudo de forma normal”.

A classificação no momento da paragem do campeonato acabou por ser aquela que ditou o futuro para a época 2020-2021, com o Nacional da Madeira e o Sporting Clube Farense a subir ao principal escalão português, enquanto o Cova da Piedade e Casa Pia asseguraram a permanência depois da exclusão do Desportivo das Aves e do Vitória Futebol Clube dos campeonatos profissionais. 

Rui Correia afirma que os objetivos do Nacional sempre recaíram na subida e que preferia ter festejado em campo com os adeptos. “Os objetivos do Nacional desde o início da época eram altos. O pensamento era só um: colocar o Nacional no maior escalão do futebol português. Além disso, qualquer título ou subida sabem sempre bem, mas sem dúvida alguma que em campo sabe melhor do que em casa”.

Além das subidas e descidas, muitas foram as equipas que viram a sua participação na luta pelos lugares de acesso à Liga NOS interrompida, tal como o Mafra, o Feirense ou o Estoril. O jovem fogaceiro relembra que a equipa atravessava um bom momento de forma aquando da paragem. “Vínhamos de uma série de seis vitórias consecutivas, nos últimos dez jogos tínhamos oito vitórias e dois empates, e, portanto, creio que seria uma luta até ao fim. Não quero com isto dizer que iríamos subir de divisão de certeza, mas tendo em conta o momento crescente de forma que estávamos a atravessar e toda a confiança que o grupo demonstrava no campo e fora dele, acho que o Feirense tinha pelo menos mais uma palavra a dizer na disputa deste campeonato”, confessa Afonso Brito.

Outra equipa que pretendia continuar a subir na tabela era o Oliveirense e Pedro Ferreira, jogador do clube de Oliveira de Azeméis, acredita que, apesar das incógnitas relacionadas com a condição física dos jogadores, a equipa podia ter acabado na metade superior da tabela classificativa. “A retoma do campeonato seria uma incógnita para todas as equipas, porque nós jogadores, apesar de mantermos a forma física em casa, iríamos sentir dificuldades no regresso aos treinos nos primeiros tempos o que obrigaria a uma segunda pré-época. Acredito plenamente que estando nos índices físicos ideais iríamos subir na tabela. A qualidade de jogo que apresentamos até agora está à vista de todos e creio que isso acabaria por se refletir nos resultados e consequentemente na posição final no campeonato”.

Finda a época desportiva mais longa de sempre, o regresso da Liga Ledman Pro marcará o retorno dos promovidos Arouca e Vizela à segunda divisão do futebol profissional português. A presença dos adeptos nos estádios está ainda a ser analisada pelas autoridades competentes.

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