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Mundo Novo

O regresso às aulas

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Não há risco zero!…

Nem um, dois ou três, que nos assegure a proteção contra a Covid-19. Tal como contra outras doenças, não necessariamente infetocontagiosas, mas igualmente impactantes e assintomáticas na vida de cada um. Aprender a conviver com o risco, dentro da máxima segurança possível, é agora o desafio dos portugueses, num retorno gradual à normalidade aparente da vida e das atividades. Que o digam as escolas que retomaram o seu funcionamento, por indicação do governo e de um ministério que não prescinde (para mal de muitos alunos e stress de professores) dos necessários (mas desconcertantes) exames nacionais. Concordemos ou não com a abertura das escolas, foram vários os procedimentos e medidas postas em prática, para que a tranquilidade e a segurança de todos estivesse (minimamente) garantida. A máscara e o gel desinfetante são agora os protagonistas da representação cénica da presente pandemia, que dispensam qualquer apresentação ou explicação. É incontornável não falarmos na Covid-19, quando abordamos qualquer assunto (ou quase todos), relacionado com o dia-a-dia dos cidadãos, nomeadamente, o funcionamento das escolas. 

Tenho a convicção estranha de que os alicerces de uma sociedade produtiva e conscientemente saudável assentam numa boa educação, desde aquela que recebemos dos nossos pais ou tutores, até à que absorvemos de uma escola responsável, dinâmica, interventiva, mas também, atenta e cuidadora. Será esta a escola que temos? Tudo o que já era verdade, tornou-se agora mais evidente. A experiência do Ensino à Distância veio confirmar que nenhum outro tipo de ensino substitui a escola, o espaço físico onde, por si só, emerge a potencialidade de competências multidimensionais, que de outra forma é difícil ou impossível de promover. E se é certo que o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais, emocionais, motoras, mas também, de uma cidadania consciente e interventiva, emerge do trabalho pessoal de interação entre pares, não o é menos verdade que só a presença física de todos pode estimular e ver acontecer. Não há dúvidas que a internet é um instrumento fundamental na educação, não só pela facilidade de acesso imediato à informação, mas igualmente pela potencialidade dos processos de ensino e de aprendizagem que proporciona. Mas, sem dúvida alguma que o ato educativo é um ato de proximidade, onde se estimulam os sentidos de quem aprende e se desenham caminhos concretos de quem ensina. São as palavras, mas também os gestos corporais que acompanham a transmissão e o entendimento do conhecimento, o olhar profundo de quem sente como sua cada reflexão partilhada, sem que disso a educação possa prescindir para ousar ser inspiradora e, naturalmente, transformadora. A riqueza da comunicação está na capacidade de negociação, na diversidade com as diferenças uns dos outros, na construção da identidade e na sociabilização. 

A realidade nas escolas tem demonstrado, de uma forma geral, práticas de ensino demasiado transmissivas e pouco motivadoras, que em nada contribuem para o desenvolvimento autónomo e reflexivo do aluno. Tem sido notória a dificuldade da escola em conseguir envolver e captar os alunos para a aprendizagem. São obstáculos, por um lado, os currículos escolares demasiado densos e repletos de conteúdos conceptuais, por outro, a transmissão expositiva dos mesmos, sem espaço para o debate e reflexão necessária à sua eficaz interiorização, mas também, a incapacidade das famílias para a orientação dos seus educandos, deixando-os entregues a si mesmos, sem controlo ou estimulação. A escola falha (sem dúvida), mas não é a incógnita isolada da equação complexa do processo educativo. É preciso dotar os alunos (e os filhos) de competências para o século XXI, e prepará-los para as adversidades que terão (necessariamente) que enfrentar. 

Enquanto educadora, estou convicta que a aprendizagem efetiva, duradoura e apelativa, é aquela que decorre do envolvimento prazeroso e autónomo do aluno, que respeite o seu ritmo de envolvimento e consecução. Os currículos e a forma de ensino tradicional, que ainda coexiste na escola atual, não acompanhou, ao longo do tempo, as necessidades de uma sociedade exigente, em clara transformação na sua forma de ser, de estar e de agir. A instituição escola necessita, por isso, de uma urgente e eficaz mudança no seu sistema de ensino, capaz de captar e motivar os alunos para uma aprendizagem que os inquiete e lhes desperte a curiosidade, o pensamento crítico e a vontade de agirem socialmente na resolução de problemas do quotidiano. E aqui, uma vez mais, é minha convicção que, toda e qualquer mudança exterior advém da transformação interior de cada indivíduo, sem a qual, todo o esforço será superficial e pouco consistente. 

Ao pensar na escola de hoje, tenho sérias dúvidas (para não dizer, a certeza) que está longe do projeto de escola de sucesso e alunos felizes. Sendo certo que a tecnologia e os meios digitais são aliados poderosíssimos no sistema educativo, a escola é o lugar, por excelência, de múltiplas valências, e será sempre, um espaço de aprendizagem único e insubstituível. Conservemos a escola e valorizemos as paredes da sala de aula, num espaço que se quer reinventado, rejuvenescido, aliciante e transformador. 

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