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Editorial | Papel: onde vivem atualidades e gerações

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Ainda não eram 8 da manhã.

O Porto despertava, lento, e nós, a um ritmo acelerado, invadíamos a gráfica à espera de notícias. As nossas notícias. O ar estava quente e pesado, depois de uma longa noite de trabalho da maquinaria, e pairava um cheiro forte a tinta e papel. Pelo caminho, um rasto de folhas manchadas e salpicadas… Como que uma pista para o resultado que tanto esperávamos. 

Até que surge, a escassos passos de distância, o resultado de todo o nosso trabalho: uma pilha de 10 mil exemplares do JUP. Massiva, a demonstrar todo o trabalho até então e a questionar o que teríamos pela frente. Recebemos a guia de transporte e começamos a carregar, com 5 mil, a velha carrinha.

Um dia, quatro braços e uma carrinha: é suficiente para fazer chegar o JUP às mãos de todos e todas que passam, diariamente, por todas as faculdades da UP, por todas as escolas e institutos do IPP e também por todas as universidades e institutos privados do grande Porto. 

Esta era a nossa rotina. A rotina de quando distribuímos a última versão impressa do JUP em 2015.

Um impresso que foi conhecendo várias mutações e metamorfoses com o passar do tempo. Uma evolução natural, que teve os seus intervalos, mas que eu diria que foi sempre uma evolução feliz. 

Quando assinei e distribuí aquela edição temática dedicada aos “Géneros e Sexualidades” tentava acreditar que não seria a última versão impressa do JUP, contudo, todos nós sabíamos que os sinais do tempo eram cada vez mais pesados e intransigentes com o papel. 

Passados cinco anos é pois chegada a hora do JUP “regressar”. Não é sinónimo de que tenha partido – até pela presença on-line que manteve ao logo dos anos – mas é sinal de que trilhou um percurso até chegar aqui. 

O papel tem esse efeito: de regresso, de memória, de trabalho e, sobretudo, de recordação de todas as gerações que pensaram, construíram, escreveram, desenharam, fotografaram, projetaram, distribuíram e leram o jornal universitário mais antigo do país. Porque no papel vive a atualidade, mas essa atualidade, no papel, vive para sempre.

 

Joel Pais

Direção de 2015

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