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Política

Os 3 meses de Donald Trump no (regresso ao) Poder

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A 5 de novembro do ano passado,  Donald Trump e Kamala Harris confrontaram-se nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América. Desde que tomou posse a 20 de janeiro, várias foram as decisões tomadas pelo Republicano que têm vindo a dar que falar pelos quatro cantos do globo.

Donald Trump e Kamala Harris debateram-se, no início de novembro do ano passado, nas últimas eleições presidenciais para assumirem o controlo dos Estados Unidos da América (EUA) – uma das maiores superpotências mundiais. Derrotada Kamala Harris, Trump tornou-se, assim, no primeiro Presidente condenado criminalmente pela Justiça à frente da Casa Branca

Desde que tomou posse a 20 de janeiro, várias foram as decisões tomadas pelo Republicano que têm vindo a provocar debate não apenas nos EUA, como também em todo o mundo. Ainda durante a campanha, Trump havia prometido reverter várias ações provenientes do Governo de Joe Biden. Promessa essa que se veio a cumprir no próprio primeiro dia de mandato, marcado pela revogação de 78 ordens executivas assinadas pelo ex-presidente Democrata, onde se incluíam medidas que visavam a proteção da comunidade LGBT+ e a igualdade racial. 

Pouco mais de uma semana desde então, uma ordem executiva que visou restringir e terminar os tratamentos prestados a jovens transgénero. Com esta medida, o Presidente procurou cortar os fundos direcionados aos sistemas de saúde públicos responsáveis pelo fornecimento de bloqueadores de puberdade, tratamentos hormonais, procedimentos cirúrgicos e outros cuidados de saúde ligados à afirmação de género.  

Perante o retrocesso na luta pela igualdade de direitos da comunidade LGBT+, várias figuras têm vindo a público apelar à sensibilidade de Donald Trump. Nomeadamente, a bispa episcopal de Washington, Mariann Budde, a primeira a liderar a diocese da cidade, apelou à “misericórdia” do Presidente ao dizer que “[h]á crianças gays, lésbicas e transgénero em famílias democratas, republicanas e independentes. Algumas temem pelas suas vidas.”.

Na mesma linha de pensamento, Trump assinou ainda um decreto que proíbe  as pessoas transgénero de cumprirem serviço nas Forças Armadas americanas, entendendo que as tropas que se identificam com um género distinto daquele que lhe foi atribuído à nascença “entram em conflito com um estilo de vida honrado, verdadeiro e disciplinado, mesmo na vida pessoal.”

Ainda dentro das questões militares, mais recentemente o presidente  estipulou que, até ao final do mês de março, os militares transgénero teriam de se identificar para serem afastados do Exército. Esta medida vem, portanto, não só impedir que no futuro pessoas transgénero se possam vir a alistar no Exército americano, como igualmente afasta aqueles já alistados. 

Todas estas medidas foram acompanhadas pela saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), justificada com “gastos financeiros excessivos” e “prioridades nacionais”. Uma vez que o país contribuía significativamente com cerca de 500 milhões de dólares anuais para a OMS, a sua saída poderá resultar em grandes retrocessos na luta contra doenças como a SIDA, a malária e a tuberculose.

No mesmo seguimento, dias mais tarde, o Republicano eleito optou pelo corte no fornecimento de medicamentos para o tratamento dessas mesmas doenças infeciosas, assim como de material médico para recém-nascidos, aos países apoiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Esta é uma medida que já está a afetar muitas pessoas, de entre as quais cerca de 20 milhões de pacientes portadores do vírus do VIH. Mais recentemente, Donald Trump e Elon Musk, o multibilionário fundador da Tesla e atual Conselheiro Sénior da Casa Branca, demonstraram intenções de virem a desmantelar a própria USAID. Os principais países afetados encontram-se no continente africano, tais como a Tanzânia, a Nigéria, a África do Sul, o Uganda e Moçambique.

Ao nível da Saúde, é,por fim, de salientar que o Governo de Trump inclui Robert F. Kennedy Jr., atual Secretário da Saúde, conhecido por ser defensor do movimento anti-vacinas e de várias teorias da conspiração, o que justifica o aval dado a muitas destas medidas.

Economicamente, Trump tem procurado taxar vários países fronteiriços com os EUA e, mais recentemente, a própria União Europeia. Entrou em vigor no passado dia 3 de março uma taxa de 25% sobre as importações do Canadá, país vizinho e com histórico de boas relações há pelo menos dois séculos

Inicialmente o Canadá pretendeu retaliar e aplicar as mesmas tarifas às importações americanas. Contudo, a 7 de março, acabou por voltar atrás na  decisão, tendo como base o facto de o Presidente americano ter recuado e revelado que isentaria temporariamente alguns produtos canadianos de taxas alfandegárias.Todavia, o Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, pronunciou-se no sentido de entender que o objetivo de Trump com estas medidas passava pelo derrubamento da economia canadiana, para poder “anexar” o país.

Em relação ao México, inicialmente Trump anunciou aplicar a mesma taxa de 25% às importações provenientes do país latino. Contudo, após diálogo com a atual Presidente do México, Claudia Sheinbaum, o Republicano optou por suspender quase na totalidade as tarifas de importação mexicanas até 2 de abril.

No final do mês de fevereiro, o Chefe de Estado americano anunciou que, muito em breve, os produtos europeus também estarão sujeitos às mesmas taxas alfandegárias de 25%, pois, na sua perspetiva: “A União Europeia foi criada para prejudicar os EUA”. 

Além da “guerra comercial” que tem provocado nos quase três meses de mandato, o atual Presidente dos EUA tem-se envolvido ativamente nos conflitos armados dos últimos tempos. Na sequência do estreitamento dos laços americanos com Vladimir Putin,  Presidente da Rússia,  recentemente Trump optou por suspender a ajuda militar à Ucrânia por tempo indeterminado, de forma a pressionar o Presidente ucraniano a agir de acordo com o desejado pelo Republicano. No entender americano, Zelensky “não está comprometido com a paz”. No rescaldo do momento, Trump veio no início de março afirmar que Zelensky estaria pronto para assinar acordo de minerais.

Dada a atual frágil relação americana com a Ucrânia, os países europeus têm-se mostrado solidários com o povo ucraniano, movimento onde se incluem figuras europeias de relevo, tais como António Costa, ex-Primeiro Ministro português e atual presidente do Conselho Europeu. Neste âmbito, Costa garantiu que Zelensky “nunca estará sozinho” e que continuará a trabalhar em conjunto para alcançar uma “paz justa, sustentável”

Mais a oriente, desde janeiro que Trump não esconde a sua preferência por Israel no conflito contra Hamas. Aliás, o Presidente americano tem vindo a descrever frequentemente Gaza como sendo um “grande terreno imobiliário” que os EUA pretendem “comprar”. Neste sentido, Trump recusa o regresso de palestinianos a Gaza, tratando o palco do conflito como um mero “empreendimento imobiliário para o futuro”.

No final de janeiro de 2025, foi acordado um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, por mediação do Qatar e dos EUA. Porém, mais recentemente, Benjamin Netanyahu, atual Primeiro-Ministro de Israel, não colocou de parte a possibilidade de regressar ao combate, em decorrência de contactos estabelecidos sem o seu conhecimento entre a Administração americana e o Hamas. Na verdade, no decorrer desse contacto, Trump deixou um ultimato na rede social Truth Social, dizendo que ou o grupo islamita liberta os reféns restantes, ou então enviaria a Israel “tudo o que eles precisassem para terminar o trabalho em Gaza.”

Perante este cenário, a irreverência e a ameaça a milhares de vidas  pautam o 2.º mandato de Donald Trump. Aliás, de  entre tudo o que foi constatado até aqui, desde a  ordenação do encerramento do Departamento de Educação americano,passando pela  saída do Acordo do Clima até ao perdão a cerca de 1500 pessoas condenadas pelo ataque ao Capitólio, torna-se imprevisível saber o que ainda estará por vir na Presidência de Trump. 

Artigo por: Bruna Moreira 

Editado por: Ana Pinto, Maria Inês Faria e Mariana Dias