Crónica

Memórias Relevantes – Cartoon Network, ou “antes nos tivéssemos metido na droga”

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Com a diversificação astronómica de canais televisivos que se deu durante as nossas infâncias, chegou ao ecrã lá de casa o mal que nos haveria de queimar os fusíveis; ainda antes de eles sequer terem tido tempo de se montar em condições. Cada geração terá os seus satanáses: mais coisa menos coisa, os nossos avós tinham o Rock e as saias, os nossos pais as drogas e as telenovelas… e nós; nós tivemos, acima de tudo, o Cartoon Network! Fomos, sem margem para dúvida, os mais sofridos! E quer-me parecer que nenhum adulto se apercebeu ao certo daquilo que se andava a passar…

 

Onde é que estavam os nossos progenitores quando nos acomodávamos no sofá a ver aqueles desenhos-animados dos infernos?! Por que é que não nos impediram de desgraçar a nossa saúde mental?… Mais valia terem-nos incentivado a acabar na droga (bem, alguns fizeram um cocktail de ambos… estupefacientes e Cartoon Network é mesmo o fim do mundo em cuecas)!

 

Ainda hoje sinto arrepios ao rever certos episódios do Courage, the cowardly dog (ou Leone, il cane fifone – a tradução Italiana sempre soa menos aterradora)! Foram meses de sono perdidos… raios partam aquele casal de velhos a viverem no meio de nenhures e a serem constantemente assolados por monstros! E as Powerpuff Girls, que agora virou um cartoonzinho adorável, era na altura criminosamente psicadélico! Sem esquecer o Samurai Jack, o outro do galo e da vaca, mais o Foster’s Home For Imaginary Friends (que parecia inocente, até que no final de nos contavam que os protagonistas tinham problemas mentais e era tudo imaginado)… Os únicos que se safaram foram os que se refugiaram em ataques de epilepsia, tendo ficado em segurança a espumarem-se no tapete, enquanto o resto da malta fritava a pipoca. Vá lá, que pelo menos o Dexter’s Laboratory não há-de ter ferido ninguém, estava nos limites da decência.

 

Mesmo o Canal Panda era por vezes suspeito, com o Doraemon e o Oliver e Benji, nos quais também se descobria no último episódio que toda a história era uma mentira e que, portanto, mais vale arrumar as trouxas e legalizar a eutanásia. Não contentes com isto, a partir de certa hora acabavam a emissão dando lugar a umas imagens muito psico-sugestivas que se apoderavam do cérebro das crianças… estou a brincar, elas não têm disso, são umas maçadoras.

 

Talvez poucos se lembrem, mas havia aqui à volta toda uma conspiração complexamente orquestrada… É que à noite, quando finalmente os nossos paizinhos se podiam sentar connosco a ver televisão com a devida atenção, o Cartoon Network, sempre manhoso, como por magia transformava-se em TCM. Tal atrocidade nem num conto dos Irmãos Grimm seria imaginável!… É que este TCM era completamente inofensivo, passando essencialmente filmes de cowboys, que como bem sabemos são meios toscos e não aleijam inocentes. Assim era que o flagelo passava dia-a-dia despercebido…

 

Apesar do dramático da situação, devemo-nos consciencializar de que nem tudo foi mau! Ainda apanhámos umas boas séries ditas infantis – ele foram os Pokémons e Digimons, Dragonsbois, As Aventuras de Jackie Chan, Pacha e o Imperador, Hercules, Timon e Pumbaa, Tatrugas Ninja, Brandy & Mr. Whiskers, Dave O Bárbaro, Phineas e Ferb, American Dragon, Kim Possible, O Recreio, Lilo e Stitch… Hoje, um gajo abre o Disney Channel e até se entristece com o quão estupidificante e fútil a programação para os jobes se tornou. Pessoalmente prefiro ter tendências para frito do que para apalermado – mas não me venham pedir para dar qualquer contributo para a sociedade!

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