Opinião

FILHO DO PAI!

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Numa das minhas frequentes incursões procrastinadoras pelo mundo do Facebook, por entre muita coisa inútil que me faz ansiar por algo de jeito, eis que Daniel Oliveira, jornalista e cronista no Expresso, filho de um senhor chamado Herberto Helder, escreve o seguinte:

“A quantidade impressionante de idiotas que quer pensar «fora da caixa» faz-me ter imensa vontade de ficar dentro dela. Imagino-a, nos dias que correm, um lugar tranquilo por onde só passam uns excêntricos geniais.”

Ora, algo que a minha cabeça tem matutado há tempos, ainda que de outra maneira, e que Daniel Oliveira escreveu como uma bala. A crueza e verdade deste post fez-me rejubilar por dentro. Há mais tempo, desta vez em frente ao pequeno ecrã (ou talvez médio, visto estar neste momento a olhar para um ainda mais pequeno) a ver o programa Inferno, do Canal Q, em rodapé surge uma “notícia” cujo conteúdo ditava algo semelhante, que dizia, por outras palavras, que não sei onde elas andam neste momento, que o crescente uso e respetiva moda do vinil anda a obrigar os hipsters a virarem-se para a grafonola.

Este texto pode por aqui ficar, mas prefiro não o fazer (obrigado, Bartleby). Eu suspeito que à medida que os tempos avancem, aqueles que querem ser diferentes forçosamente, forçosamente comecem a acender os seus cigarros com duas pedras. Qual a necessidade de uma vontade exagerada de diferenciação? Ser diferente é bom, não o nego. É bom ser-se ou pertencer-se a grupos e comunidades não-moldadas pelas massas que não saem do seu pequeno quadrado. É bom querer afirmar-se; não vejo qualquer mal nisso, até vejo alguma glória. Mas este querer incessante e saciado de querer sair das margens acaba por se concretizar, apesar de o conseguir de forma não orgânica e natural. A vontade boa acaba por terminar numa artificialidade, por vezes, repugnante.

 A nossa vida é feita dentro de um quadrado. Por mais que queiramos nunca saímos dele. O resultado positivo é o alargamento do mesmo, conferindo-lhe uma área cada vez maior. Mesmo que se tenha a intenção de quebrar os seus limites, estes são demasiado elásticos para tal. O objetivo passa por tentar abranger o maior número de coisas boas dentro desse quadrado. Por outro prisma, o simples desejo da mudança e da quebra está na base de verdadeiras transformações culturais e sociais. Aqui fala-se, pelo contrário, de sentir a necessidade de vestir amarelo com roxo apenas por toda a gente veste cores que não amarelo e roxo. Não sou polícia para condenar tais atitudes, até tenho amigos com quem vou aos copos que vestem amarelo e roxo… Afinal acho que não, vestem verde e rosa.

Sejamos atentos e esponjas do que interessa. E nestes tempos maravilhosos que que temos tudo à disposição, nem tudo interessa, ao contrário do que dizem os mentirosos. Agora, depois de mais umas descidas pelo Facebook vou vestir o meu manto grego e voltar para o meu quadrado. Aliás, vou voltar para o meu círculo porque não gosto de quadrados e toda a gente fala deles.

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