Opinião
SEMENTES
A propósito do aniversário de Simone de Beauvoir no passado dia 9 de Janeiro, ponderei que esta seria a melhor altura para voltar a escrever. Por variados motivos, alguns deles fora do meu controlo, deixei de ter tempo de me sentar na secretária de sempre e me deixar levar pelos devaneios guiados pela emoção do momento numa dança desenfreada a papel e caneta mas hoje aqui me sento numa tarde chuvosa e com a pressão dos imensos trabalhos que ainda tenho de terminar e submeter antes do final do mês para salvar este semestre (e apaziguar-me do desleixo que se apodera sempre de mim depois das promessas de empenho feitas logo no início de Setembro e esquecidas ou antes ignoradas de imediato).
Simone de Beauvoir foi e, pessoalmente, será sempre, monumental inspiração quer a nível literário quer a nível pessoal. A sua posição no movimento filosófico existencialista, predominantemente dominado por pensamentos masculinos, numa altura em que o pensamento e opinião da mulher eram (ainda mais do que agora) desvalorizados ou tomados como inferiores. Beauvoir afirmou-se como uma das grandes pensadoras do século XX e viria a abrir um novo capítulo na desigualdade dos sexos e como esta era vista com o seu livro ‘O Segundo Sexo’ onde explora a desvalorização constante da Mulher e o papel da mesma na sociedade. Décadas já passaram e o ensaio de Beauvoir ainda explora feridas que pecam por não sarar. Pode parecer presunçoso trazer o assunto à superfície mais do que várias vezes mas enquanto a balança da igualdade se encontrar em desequilíbrio colossal é algo que não precisa de justificação e necessita de ser abordado. Afinal porquê que passamos por tantas décadas de evolução tecnológica e científica, mas ainda continua a ser penoso ser-se Mulher e ousar pensar enquanto Mulher?
(entretanto a inspiração falhou severamente e este artigo ficou em rascunho por umas semanas e Fevereiro chegou)
Cansa-me ainda ter de frisar que esta desigualdade existe e salientá-la vezes e vezes sem conta. Numa amena cavaqueira pelas ruas de Lisboa com uma amiga de longa data discutíamos o quão dispare é a sociedade com pequeníssimos detalhes. Qualquer aspecto da mulher é escrutinado sem motive válido. E agora que Fevereiro chega ao fim e aquilo que começou como um desabafo em ânsia é hoje dor pela desumanidade de que o ser humano é capaz. Chegam-nos relatos de que na Síria as Mulheres são obrigadas a trocar sexo por bens de primeira necessidade. As Nações Unidas e os seus representantes, que se afirmam como figuras que sempre nos transmitiram esperança em tempos de tragédia, pedem agora às Mulheres daquele país, já severamente violentadas pelo que testemunham a cada dia que lhes «paguem» bens como comida com favores sexuais e caso não o façam recusam-lhes qualquer auxílio.
Queria terminar este artigo, mas a desumanidade destes seres deixa-me sem palavras… semeio aqui esperança numa sociedade mais humana, mais ciente do próximo e espero colher (e escrever sobre) os frutos em breve.