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Opinião

SÍNDROME DE CRISTALEIRA

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Lembras-te daquela garrafa de champanhe Moët & Chandon que o teu tio António trouxe de França? Aquela que está guardada para beber quando…espera; quando mesmo?

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Há pouco tempo, num jantar de família, o meu pai pediu-me para ir buscar uma garrafa de vinho à garagem. Lá fui eu procurar a dita cuja e, chegada à sala, ele mandou-me recambiada trazer outra, porque aquela era “demasiado boa”, indicada para uma “ocasião especial”. Passados uns meses assaltaram-lhe a garagem e levaram umas centenas de euros em vinho. A partir daí foi beber do mais fino a semana toda, porque “não vão os malandros tirar-me a pinga outra vez”.

Esta história para dizer que os portugueses sofrem de uma patologia grave. Uma mania estúpida de guardar ad eternum o que têm de melhor para supostamente um dia fazer um brilharete; acontece que nunca nada é suficientemente importante e o vinho do Porto azeda e o serviço de chá da tia Adelaide chega à 3ª geração ainda a brilhar naquela mesma cristaleira de há 150 anos.

Mas qual a explicação para este fenómeno? A emigração dos 60 trouxe aquela crença de que valia a pena gastar uma vida de escravidão lá fora para comprar a casa na aldeia, acabando o povo a morrer aos 80, infelizes e podres de ricos nos subúrbios de Paris. O português da bidonville já era, mas os hábitos, esses ficaram.

Os portugueses, atletas olímpicos no saudosismo e outras modalidades salazarentas ranhosas, haviam de arrancar esta humildeoforretice do corpo e mandá-la para o Tarrafal.

O carpe diem não devia ser só mote para tatuagens simplórias. Façam o favor de fazer mais jantaradas e de abrir uma dessas pomadas finas aí encostadas há quinhentos. Só porque sim. Só porque, citando o Zécid, cantamos pessoas vivas.

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