Opinião
A ADOLESCÊNCIA E SUAS DIFICULDADES: O CASO BRASIL
Assisto, desolado e à distância, a situação no país onde nasci e fui criado. Curioso que em 4 anos longe (desde as eleições de 2014), já tenha sido chamado de fascista por não ter apoiado Dilma Rousseff, novamente de fascista e de golpista por ter sido tecnicamente favorável à sua saída do Poder e, hoje, aparentemente, sou um comunista politicamente correto que deveria morar na Venezuela.
Esta última adjetivação não apenas soa, como é cômica ao comparar com a visão que tive dos últimos grandes acontecimentos políticos do Brasil. Não é, no entanto, de diferente natureza das demais “acusações”.
É possível afirmar isso, pois todas estas “críticas” são vazias, sem o menor filtro crítico de meu(s) interlocutor(es), que parecem ser, essencialmente, cegos à razão em virtude da fé que colocam ou lhes foi colocada por seus “líderes”.
Tarefa simples é comparar o eleitor do Partido dos Trabalhadores do pós-Lula com os eleitores do novo Salvador da Pátria brasileira. Ambos negam quaisquer informações que não beneficie ou, ao menos, não critique seu escolhido.
A partir disso, surgem as mencionadas adjetivações, que seguem a linha de argumentação mais rasa em qualquer tipo de debate e são fortalecidas pelo crescimento da influência das redes sociais no contexto democrático.
Há, no entanto, algumas diferenças relevantes entre os dois “discursos”. Os primeiros, apesar de defenderem cegamente sua divindade escolhida, apresentavam ideais a partir dos quais se identificavam com seus líderes, que a partir da ideologia adotada lhes ofereciam projetos concretos e agendas materiais condizentes com suas expectativas. Com isso, podemos compreender a idolatria e fé em alguém mesmo com seus erros, não importando quão grave sejam.
Não digo que isso seja louvável ou correto, e poderia comparar com o perdão de fiéis a líderes religiosos pecadores, por exemplo.
Do outro lado, vemos isso de certa forma. São perdoadas tendências <fascistas>, racistas, xenófobas, misóginas, dentre outras, as quais seus eleitores estão cansados de ouvir, mas não vemos, em lugar algum, propostas concretas ou minimamente pautadas por ideais, tendo meramente uma irritação vazia que se apresenta como a acne mais irritante de uma adolescente em fase de confusão hormonal: a Democracia Brasileira, que passa por uma dolorosa puberdade.
O brasileiro médio, dotado de um nível educacional (não necessariamente de escolaridade) razoável, tem, neste cenário, a possibilidade de ver legitimado seu “discurso de bar” a partir de frases prontas e simples, carregado por seus preconceitos e falta de conhecimento.
Nota-se que até o Plano de Governo do candidato, que até este parágrafo já se deve saber que não será citado, é composto por sentenças que ouvimos de amigos, familiares, conhecidos ou colegas, mais ou menos politizado pela rádio, TV ou redes sociais, sem nenhuma estrutura real ou explicação de materialização.
Quanto ao mérito deste plano, não caberá aqui aprofundamento, tendo em vista que sequer é o foco dos debates nestas eleições, das quais os candidatos que tentaram argumentar de forma concreta foram abandonados pela população brasileira por falta de identificação (pensaram demais? Esperaram demais de nossa adolescente?)
O que cabe destacar, por outro lado, é o já mencionado fato de se acompanhar um “Messias”, sem o menor esforço de raciocínio, ignorando a ausência de planejamento e ideais, simplesmente por se ver identificado num discurso que não propaga nada, NADA, além do ódio e repulsa à outra parte.
O que nos cabe, agora, é esperar que este seja o sintoma mais grave da puberdade de nossa querida Democracia, que tão jovem já tanto sofreu, e que esta fase logo passe, para que possamos crescer e aparecer para o mundo.
Que esta acne seja exprimida a partir da consciência, educação e bom senso de nossos compatriotas, que vençam a religiosidade que é seu pus, e que nos ajudem a eliminar ou prevenir o surgimento de manifestações que possam fazer com que a democracia seja mais uma adolescente assassinada em solo tupiniquim.