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Artigo de Opinião

POR FAVOR NÃO MATEM OS “TOURINHOS”

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As propostas do CDS, PSP e PSD para que o IVA das touradas baixe para 6% foram aprovadas em Parlamento, no passado dia 26 de novembro. Passam então a fazer parte da lista de espetáculos culturais associados a um IVA reduzido, na qual também se encontram as categorias de teatro, cinema e música. No seguimento desta decisão, a opinião pública não ficou indiferente e a discussão entre os apoiantes e críticos das touradas não se fez esperar.

Desde a sua génese no século XII, a tauromaquia estabeleceu-se como um “espetáculo” que entretinha pessoas de qualquer faixa etária. Contudo, dirigindo o foco aos anos mais recentes, esta prática tem suscitado cada vez mais um debate aguerrido na sociedade. Por um lado, há quem argumente que se trata de uma tradição inerente à cultura portuguesa, e indispensável no panorama de entretenimento. Por outro, não falta quem as descreva como uma mera manifestação de tortura e peça a sua abolição. Acho que não é necessário clarificar quem é que tem razão.

Segundo estimativas recolhidas pela Inspeção-Geral das Atividades Culturais, as touradas perderam cerca de 320.000 espetadores na última década, cerca de 45% do seu número total. Esta prova estatística retrata uma ampla diminuição dos seus adeptos e deixa no ar uma possível extinção da tauromaquia em Portugal dentro de 20 ou 30 anos. É deste modo evidente que esta barbárie está a morrer pouco a pouco, como um touro numa praça, sendo cada ano um arpão que a desgarra e a põe mais perto de se desvair. É apenas questão de tempo até que os gritos de animais inocentes se deixem de dissipar entre palmas de rejúbilo, e que as touradas se extingam, não deixando nada além da lição de não torturar animais.

Figueiredo Dias, considerado o pai do Código Penal, tem uma opinião bem assente sobre o tratamento dos animais na perspetiva jurídica: “Não acho adequado neste momento proibir ou criminalizar as touradas num país como Portugal”, avançou ao Jornal Público. Conclui-se deste modo que é necessário que mais uns quantos milhares de touros morram em Praças sob os aplausos insensíveis da multidão para que se pondere tomar algum tipo de medida.

Certo é que com esta descida do IVA as touradas foram enquadradas no mesmo patamar que peças de teatro, musicais e concertos, mas nem assim se poderá convencer quem quer que seja que se tratam de arte. É como quando num supermercado o tomate está na secção dos vegetais, sabendo toda a gente que é uma fruta. Além disso, os argumentos contra as touradas são bastantes: um por cada bandarilha cravada num touro.

A violência nunca se deverá considerar entretenimento, e muito menos cultura. Já dizia Vitorino de Almeida: “Se tourada é cultura, canibalismo é gastronomia”. Se queremos caminhar para uma sociedade menos cruel e mais civilizada, a opção é só uma: acabar com as touradas. Deixemos de apreciar a crueldade como um espetáculo. Deixemos de rimar sofrimento com entretenimento porque são duas palavras que não devem emparelhar. Que todos aqueles que ostentam a dor causada a um animal como a afirmação de uma tradição saibam que cada corrida de touros é uma manifestação de tremenda cobardia. E, sobretudo, saibamos reconhecer a selvageria que está presente em cada arpão de metal penetrado no lombo de um animal encurralado e sem escapatória à lenta e sofrida morte à qual está condenado. Porque a verdade é que nas touradas o animal não sofre. Mas o touro sim, e muito.

Artigo de André Duarte Veiga. Revisto por Adriana Peixoto.

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