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Devaneios

A ARTE DE APAIXONAR-SE TODOS OS DIAS

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A beleza está em toda a parte. No céu, nas ruas, nas árvores dos passeios e nas pessoas que passam por mim todos os dias. Se há um tema sobre o qual não me canso de escrever é este: a beleza de olhar o mundo cada vez que se sai porta fora.

Por vezes ouço falar do quão feio e pacato o mundo é. No entanto, até nessas imagens vulgares e banais há um certo tipo de beleza. Num autocarro da STCP há beleza. Há beleza porque há centenas como aquele, porque nele cabem mundos inteiros. O mesmo com o Metro, transporte de eleição da juventude sonhadora da cidade. Quantos utentes do transporte público não estão a caminho de tomar uma decisão que vai mudar a sua vida (ou a de mais alguém) para sempre?

Por isso é que eu me farto de dizer que a beleza está em toda a parte. Está em alguém que demorou um bocadinho mais de tempo de manhã a arranjar-se e exibe com orgulho a sua combinação. Um verdadeiro regalo para os olhos. Está no pai que carrega a filha ao colo e olha para ela com um amor genuíno e puro, amor de quem vê ali um pedaço de si mesmo a crescer. Está no som dos cafés e bares lotados de gente, do fumo dos cigarros e da tinta das canetas que enche pequenos cadernos com histórias, poemas e canções.

A beleza está numa mensagem de manhã a desejar-nos um bom dia, ou a pequena sensação de saber que alguém se preocupa connosco. Está naquela pessoa que tem o cuidado de nos ajudar quando parecemos perdidos ou de nos alertar para algum perigo iminente.

Um filme, um concerto, uma peça de teatro. Um livro, uma série de televisão ou um espetáculo de dança. E não só o concerto em si, mas tudo o que dele advém: os momentos prévios ao concerto, em que partilhamos um momento com quem nos acompanha (mesmo que sejam desconhecidos) e o ambiente de alívio pós-concerto, de quem viajou por outros mundos e agora tenta encontrar de novo o seu lugar na realidade.

Acima de tudo, digo eu, a beleza está naquilo que nos rodeia. Nas conversas alheias que não conseguimos evitar ouvir. Nos sorrisos rasgados de quem se está claramente a divertir. Nas expressões de sentimentos que os olhos não conseguem esconder. Nos abraços e nos beijos. No choro e no riso. A simplicidade da vida, o passar dos dias e os pequenos momentos. É por aí que a vida é bela. Por esses breves instantes em que os astros se alinham e tudo parece estar bem afinado. Tudo parece coincidir e estar do nosso agrado.

A vida é bela.

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