Crónica
E AGORA?
Tenho 21 anos, estou agora a acabar a licenciatura e nunca tive tanta a certeza do que é ter incertezas. É um sentimento interessante, controverso, mas necessário. Tenho todas as portas abertas porque estou, como todos os que acabam agora as licenciaturas, “no fundo do poço”.
Ser finalista é, basicamente, não ter palavras para descrever um sentimento. É não saber se estás triste ou feliz, e ao mesmo tempo teres a certeza do que sentes, bem como da forma tão intensa como o sentes. Só eu sei como o sinto, só tu sabes como tu o sentes.
Dizem que estes são os anos mais felizes das nossas vidas, até agora, não podia estar mais de acordo. São os anos em que mais sonhamos, que arriscamos, que nos conhecemos. Pequenas grandes batalhas que nos moldam. Pessoas que ficam para sempre, pessoas que não. É uma vontade de voltar e reviver todas as antigas reminiscências, de reviver aquelas primeiras aulas do primeiro ano em que timidamente começamos a falar superficialmente com quem se sentou ao nosso lado. Tive a sorte de ter me ter sentado à beira das pessoas certas, o azar de por momentos me dar a conhecer a pessoas erradas, agora estou feliz por ter esta história para contar, mas ao mesmo tempo triste por já ter chegado a hora de a contar. Tudo isto molda um estudante, a faculdade constrói uma pessoa, diferente da que nela entrou.
Dizem que a noção do tempo começa a acelerar à medida que envelhecemos, acredito que a faculdade é o momento em que tomamos noção de que isto é verdade. Tão depressa estamos no primeiro ano com receios de tudo, do viver sozinho, dos berros dos doutores na praxe, da intermitente pressão de passar a todas as cadeiras, de fazer amigos, de viver ao máximo estes anos que já têm a fama dos melhores da nossa vida; como somos finalistas, de coração cheio e “capas negras de saudade”, com uma coletânea de memórias e experiências vividas, e com a mesma sensação de que soube a pouco, de que não vivemos ao máximo, de que era preciso mais. E aqui, ao mesmo tempo, surge o pensamento controverso de que temos que continuar, de que já acabou. Travamos uma batalha entre aquilo que queremos e do que é esperado de nós. Queremos ficar, mas sabemos que temos que partir.
Seguir em frente… parece bonito, é bonito, mas para onde? Assusta só de pensar, antevemos um novo mundo por ser explorado, estamos, outra vez, a recomeçar e os receios são os mesmos de quando eramos caloiros.
Somos os millennials, os que tivemos as oportunidades de estudar fora e de viajar mais pelos voos low cost, de viver numa sociedade moderna e sem grande necessidade de revolta. Somos uma sociedade mais global, com uma mente mais aberta e sensível. Somos constantemente bombardeados com informação por todos os meios e tudo isto faz-nos sentir mais perdidos e ansiosos em relação a tudo. E isto é tudo muito bom. São estas possibilidades, acedidas pela informação, que nos fazem questionar as diretrizes que a sociedade nos tentou impor. Permite-nos pensar antes de nos conformarmos com o que se espera de nós. Temos agora finalmente a liberdade para decidir o que fazer daqui para a frente, sem orientações de ninguém, ir para mestrado, começar a trabalhar, adotar o tão moderno e “na moda” conceito do gap year, ir viajar de mochila às costas e continuar a conhecer-me. Não sei. Isto deixa-me tudo muito confuso, e ainda bem que assim é.
Afinal, o que é que eu quero mesmo fazer da vida?
Artigo de Francisco Lima. Revisto por Adriana Peixoto.