Crítica

VEJAM “JANE THE VIRGIN”

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Com muita tristeza minha, terminei há uns dias de ver a série “Jane The Virgin”. Se já viste a série, com certeza partilhas da minha dor por já não sabermos nada da vida da Jane. Se ainda não viste, estás à espera de quê?

Primeiro de tudo, não há como não ficar intrigada quando amigos me diziam para ver uma série sobre uma mulher com os seus 20 e poucos anos que é virgem e engravida. É, no mínimo, estranho. O que é certo é que, de imediato, suscita curiosidade. SPOILER ALERT: ela foi acidentalmente inseminada artificialmente! A história começa precisamente neste ponto – o ponto a partir do qual a vida minimamente normal da Jane vira completamente do avesso. Ela tinha um namorado, mas o esperma que lhe foi inseminado era do dono do hotel em Miami no qual ela era empregada. Como podem imaginar, isso complica um pouco as coisas no seu relacionamento e vive-se um triângulo amoroso – e vocês pensam: “típico” (que não é nada típico!). E quem está do lado de cá do ecrã tem a possibilidade de ver o desenrolar de duas grandes histórias de amor (e chorar por não existir nenhum Michael ou Rafael na vida real, mas isso são outros quinhentos).

E, afinal de contas, quem é a Jane? É uma mulher apaixonada por livros, sobretudo romances, e desde sempre quer ser escritora. A sua mãe é a Xiomara e a sua avó a Alba. A história central pertence a estas três mulheres, que juntas riem, choram, dançam e gritam. É esta história de três gerações que encontramos na série, que nos mostra como as mulheres têm sido consideradas o sexo mais fraco tão injustamente durante tantos anos. Se não ficaste convencido com a história da virgem grávida e do triângulo amoroso, isto certamente começa a mostrar que a série é bem mais do que isso, não?

Alba é venezuelana e logo depois de casar emigrou com o seu marido para os EUA, à procura de uma vida melhor, começada do zero, mas o seu marido morre quando a filha, Xiomara, é apenas uma adolescente, e nem por isso Alba perde a coragem. Como tantas outras pessoas, é uma emigrante ilegal, e ao longo da série sentimos com ela a ânsia constante, o medo da deportação e de lhe tirarem tudo o que ela construiu. Como não podia deixar de ser, Trump, que é eleito durante a filmagem da série, é metido ao barulho, de uma forma muito subtil e, não obstante, muito marcada.

Em oposição completa à avó tradicional, reservada e extremamente católica, temos a mãe de Jane: a supermoderna Xiomara, que criou Jane como mãe solteira desde os 16 anos. Força, determinação e garra são as caraterísticas mais salientes desta personagem, mas ofuscam-se completamente quando ela enfrenta um grave problema de saúde, mais uma vez, vivenciado por tantas mulheres: o cancro da mama. Assistimos à sua jornada, à luta constante que tantas vezes achou não conseguir vencer e, claro, à importância do amor e da família.

Sempre ao lado de Xiomara, esteve a personagem que é muito provavelmente a minha preferida: Rogelio de La Vega, pai de Jane, amor de adolescência de Xiomara, que reencontra aquelas que são as mulheres da sua vida, quando é já um grande ator de telenovelas, uma superestrela no México. Nos EUA, vai trabalhar no duro para ser um ator de renome mundial, ao mesmo tempo que conhece e se relaciona com a sua filha (e acrescenta muita piada à série). Este é um homem que, contrariando todas as regras criadas pela sociedade relativas a “ser homem”, é sensível, verbaliza os seus sentimentos, chora e gosta de cor-de-rosa. Valha-nos Deus, onde é que já se viu?

Importa não esquecer a Petra, que é a esposa do Rafael (“baby-daddy” da Jane) quando a série começa. Supostamente ela é que ia ser inseminada com o esperma do Rafael (o que faz sentido, visto que eles é que eram o casal), o que obviamente não aconteceu. Esta é uma personagem fria e arrogante, o que mais tarde se percebe, tendo em conta a sua infância terrível em que nunca foi tratada com carinho e em que a única coisa que lhe foi ensinada foi manipular para sobreviver. Apesar disso, Petra vai destruindo os seus muros aos poucos, muito graças à amizade que acaba por fazer com Jane, que lhe mostra que ser boa pessoa não é, de todo, sinónimo de ser fraca.

É óbvio que se a série teve 5 temporadas é porque a Jane decidiu ter o bebé, então resta dizer que o seu filho, o Mateo, tem muitas dificuldades na escola, tanto a nível de aprendizagem como de comportamento. Pois é, retrata-se aqui o insucesso escolar e como os pais têm um papel tão importante no combate a esse problema. Além disso, tem a sua piada ver a Jane desesperada quando percebe que o seu filho estava longe de ser o anjinho e geniozinho que ela era.

Podia escrever durante horas sobre esta série que tanto me cativou. É uma história que fala de emigração, de religião, de virgindade, de amor, de família, de doença, de sonho, de igualdade, de perseverança. Acima de tudo, fala da vida e da realidade. Sim, porque no meio das peripécias e das loucuras da virgem Jane, acabamos sempre por ver um pouco da nossa própria vida. E é isso que “Jane The Virgin” tem de especial: ali retratado está um pouco de nós e do mundo ora tão colorido ora bem cinzento em que vivemos.

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