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Crónica

O VERGONHOSO TIRO PELA CULATRA DA DEMOCRACIA

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Para o leitor desatento à última semana, parece que o deputado André Ventura disse várias vezes a palavra “vergonha”, durante a sua intervenção de um minuto e meio na AR, e o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, não gostou.

Ferro Rodrigues disse que a utilização em excesso da palavra “vergonha” era uma ofensa para todo o parlamento e uma ofensa para o próprio deputado do Chega. André Ventura pediu a palavra para defesa de honra e o presidente da AR lá lhe permitiu falar mais um pouco. Ventura disse que era uma questão de liberdade de expressão, ao que Ferro Rodrigues respondeu, um bocadinho irado, que não há liberdade de expressão quando se ultrapassa a liberdade de expressão dos outros.

Em primeiro lugar, em que medida é que a utilização dessa palavra é uma ofensa para o parlamento, quando, ainda por cima, não foi dirigida pessoalmente a um deputado? E, em segundo lugar, quando é que se ultrapassa a liberdade de expressão de alguém? Para responder a estas questões, tive de cogitar imenso. A dificuldade para encontrar uma resposta a ambas as perguntas é muito elevada.

Todavia, vou arriscar: quantas mais vezes o deputado do Chega disser a palavra “vergonha”, melhor para a democracia, dado que, assim, Ventura apresenta somente um argumento: que tudo é uma “vergonha”. Julgo que é um argumento fácil de desmontar (mas calha de eu ser um leigo nestas matérias… Que maçada!) Relativamente a isso de ultrapassar a liberdade de expressão dos outros, considero que é, digamos, muito parvo. Os limites da liberdade de expressão estão expressos num livrozinho da República Portuguesa, ou lá o que é.

Alguém anda esquecido das vezes que já disse também essa palavra quando era deputado na oposição, não é, Eduardo? E alguém não anda a ler a Constituição da República Portuguesa, pois não, Eduardo? Eu sei, eu sei, Eduardo, que, se fosse o André a estar no poder, nenhum dos outros 229 deputados, nem tu, podiam exprimir a sua opinião. No entanto, só deste azo a uma maior exposição do deputado do Chega e à sua própria vitimização. Bem, julgo que é unânime que marcaste um autogolo à democracia.

Devido a este caso, constatei que estou saudosista do deboche que antigamente era a AR. Ah!, os corninhos de Manuel Pinho ou o mítico insulto de José Sócrates a Francisco Louçã: “Manço é a tua tia!”… Ah, que saudades! Isto da palavra “vergonha” foi só um assunto deveras entediante.

Para concluir, irei expressar o seguinte pensamento político que me ocorreu: André Ventura é um Marreta. Não digo isto como um termo pejorativo (embora abomine a ideologia do seu partido). André Ventura é mesmo um daqueles bonecos do “The Muppet Show”. É aquele cientista magrinho de cabelo cor de rosa: tal como esse fantoche que só sabe dizer “mimimi”, Ventura só sabe dizer a palavra “vergonha”. Pode ser doutorado em Direito Público, mas peca em termos da língua portuguesa. Pelos vistos, léxico não é com ele.

 

Miguel Barbosa