Crónica

QUANTO CUSTA UMA MOEDA?

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Há um fator dentro deste sistema capitalista, onde nos inserimos, que desperta bastante a minha atenção. O seu valor. Não me refiro ao valor do sistema em si, a discussão acerca do melhor tipo de regime para orientar um país é outra, aqui refiro-me apenas à unidade principal do capitalismo: o capital. Qual o valor de uma moeda para além daquele que lhe é atribuído? Sejam 5 cêntimos, 50, 1 euro ou 2, não importa quanto seja o seu valor, o que importa é quanto vale.

Para tentar esclarecer esta ideia que tenho enrolada na minha cabeça utilizo um pequeno exemplo: quanto vale um café? Um simples café, numa pequena chávena, com um pouco de açúcar, ou não, é conforme o gosto de quem o compra. A resposta mais comum será, certamente, mais ou menos, 50 cêntimos. É o preço médio. No entanto, há cerca de 20 anos, custava apenas 25 cêntimos ou 50 escudos, como preferirem. Mas o que é que mudou? Será o café mais saboroso, agora? Porque é que ganhou mais valor? Eu não percebo nada de economia, mas da maneira que vejo, dinheiro vale tanto quanto quisermos que valha.

Colecionadores de moedas. Grandes coleções de moedas antigas, moedas de outros países, moedas de materiais diferentes… Também encontro fascínio nisso. Já tive a sorte de ver algumas coleções e é mesmo bonito, não só esteticamente. Todo o motivo que confere a uma moeda a honra de ser colecionável é realmente muito interessante. Ainda assim eu não seria capaz de pagar 10 euros por uma moeda de 1, só porque tem um desenho muito bonito e invulgar, ou porque é uma das raríssimas 20 moedas que foram feitas em Espanha, no ano de 2002. Um colecionador certamente partilha uma opinião diferente da minha, o que mostra bem o facto de o valor das coisas ter a ver apenas com a pessoa que lho atribui.

Imaginem uma realidade paralela à nossa onde, por algum motivo, se decidiu que a representação do capital seria uma folha qualquer de uma árvore em vez de um pequenino pedaço de metal. O engraçado de pensar nisto é que provavelmente tudo seria igual. Na verdade, a própria moeda já passou por muitas fases ao longo dos anos, muitos materiais diferentes, muitos formatos diferentes também, alguns até peculiares. A representação do dinheiro pode adotar a forma de tudo o que desejarmos, aquilo que não se altera é a sua definição. O conceito de dinheiro mantém-se sempre firme, chegando até ao ponto em que já não é sequer necessário nada físico que o represente, apenas um conjunto de algarismos arranjados de uma determinada maneira num ecrã algures no planeta.

Portanto, aos anos que andamos a caracterizar o valor de algo criado por nós para podermos caracterizar o valor das nossas restantes criações. Um café não vale 50 cêntimos, não, um café vale o mesmo que um disco metalizado cuja apresentação é em forma circular e bordo ondulado, com um diâmetro de 24,25 milímetros, massa de 7,80 gramas e composto por ouro nórdico (Cu 89%; Al 5%; Zn 5%; Sn 1%), e que por sua vez tem um valor estipulado de 50 cêntimos. Sabem que mais vale 50 cêntimos? 10 pastilhas elásticas. Mas será que tanto uma coisa como a outra têm o mesmo valor?

Tudo isto para dizer o quê? Bem, para mim, uma guitarra tem muito mais valor do que uma televisão. Por outro lado, haverá quem valorize de maneira inversa à minha, e sendo esse o caso, então o que tem mais valor de verdade? Eu acho que sei a resposta. Nada. Nada tem valor. Estamos todos tão convencidos de que tem que haver um valor numérico para tudo, um valor monetário. E se não houvesse? Seria essa a fonte do iminente caos? Talvez sim, mas só se nós não quisermos ver além dessa barreira de cegueira que nos leva a crer que não seria algo possível de concretizar, um mundo em que nada teria um valor predefinido, um mundo onde nem sequer as nossas ações teriam que ser portadoras de uma etiqueta de preço. Um lugar onde se trabalharia com o objetivo de atingir um bem-estar global e não um cheque ao final do mês para favorecer a boa vivência de um pequeno grupo de pessoas.

Será isto assim tão difícil de alcançar? É assim tão difícil colocarmos as nossas ânsias por luxos e excessos de parte, em prol de uma sociedade mais justa e mais focada em valores morais, baseada em coisas às quais não se pode atribuir um valor, tais coisas que nem coisas são?

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