Artigo de Opinião

COVID-19: O novo normal anormal

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Há cerca de dois meses instalou-se uma realidade diferente e incómoda em Portugal. Felizmente, em maio, o país começa gradual e cautelosamente a regressar a uma normalidade ilusória. A população respeitou as normas aplicadas pelo governo português e os números de fatalidades e infetados pelo novo coronavírus em Portugal, bastante inferiores em comparação aos números da maioria dos restantes países, são prova da sua eficácia – situação que já foi apelidada de “milagre português”.

Apesar da inexistência de uma vacina e da promessa de uma segunda vaga de COVID-19, no inverno, serem dois fatores preocupantes, é necessário encontrar soluções que nos permitam voltar a conviver como sociedade e em segurança. Para que tal seja possível, é necessário respeitar regras de distância social e adotar medidas novas, tais como o uso obrigatório de máscaras nos locais públicos, principalmente naqueles onde existe uma maior proximidade entre as pessoas, e a imposição de horários diferentes para estudantes e trabalhadores de modo a evitar a sobrepopulação dentro dos transportes públicos.

O primeiro motivo que justifica o retomo da convivência em sociedade resume-se à saúde mental da população. Os portugueses já estão habituados a certos rituais diários e/ou anuais, tais como a frequentação de cafés, cabeleireiros, e principalmente, ginásios e visitas a praias, já que estes locais têm um propósito terapêutico e são, por isso, imprescindíveis nas vidas de muitos portugueses. Após meses resguardados, com a liberdade de movimentação limitada, surge a impaciência, irritação e o desejo de voltar a uma realidade familiar à que perdemos cresce diariamente. Eventualmente, o impedimento prolongado destes rituais sagrados para grande parte dos portugueses pode dar origem a uma revolta e desobediência perante as medidas de proteção e prevenção da transmissão do vírus.

O segundo motivo passa pelo retomo da convivência em família, particularmente nos casos dos idosos e de pacientes em fase terminal. Estas pessoas têm uma maior dificuldade em adaptar-se ao isolamento social porque possuem uma maior noção da finitude da vida e não sabem de quantas oportunidades ainda podem disfrutar para conviver com os seus entes queridos. Deste modo, ainda que protegidos da infeção, o isolamento obrigatório deste grupo de pessoas pode ter consequências tão graves quanto a exposição ao vírus em questão.

O terceiro e último motivo resume-se à dívida económica que surgirá devido à restrição das atividades economicas no pais. A meu ver, o turismo, a restauração e o mercado imobiliário serão as áreas mais afetadas a nível financeiro. Devido à pandemia que forçou o encerramento das fronteiras, não teremos a presença de turistas e perdemos o lucro de uma das atividades mais rentáveis da economia portuguesa. A falta de turismo e a inevitável austeridade que será imposta pelo governo implicam também uma redução significativa dos contratos de arrendamento e venda de propriedades. Como se tudo isto não fosse o suficiente, mais de 11 mil famílias já pediram ajuda para alimentar os seus agregados familiares, os números de inscrições nos centros de emprego continuam a aumentar, e os empregados em layoff vivem numa constante aflição, pois nunca sabem se vão perder o emprego no dia seguinte.

A verdade é que vamos enfrentar tempos bastantes difíceis repletos de desafios e muitos sacrifícios. Eu gostava de partilhar a opinião daqueles que acreditam que esta tragédia vai incentivar o ser humano a reviver todos os erros que cometeu, refletir nas diferentes opções que tem à sua disposição e, por fim, alterar o seu comportamento no que diz respeito à conservação do planeta e convivência em sociedade. Na minha mais sincera opinião, basta rever a história do ser humano para perceber que nenhuma catástrofe fez o homem mudar o seu comportamento e aprender com os seus erros – porque haveria esta vez de ser diferente?

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