Devaneios
Humano
E agora, humano?
A si se revelou,
o escuro pairou,
sozinho, sumiu,
no frio acanhou,
E agora, humano?
E agora, nós?
Nós que somos sem nome,
que rimos obtusos,
e nas lides mundanas
só nos desinfetamos?
E agora, humano?
Estamos a sós,
o discurso engasgou,
sem toque, nem mimo,
já sem socializar,
já sem corpos brindar,
tossir já não pode,
mais um dia passou,
sem nunca ter vindo,
a fatura já veio,
já não pode pagar,
veio a distopia
que mal começou
e a vida fugiu
e o mofo estampou,
e agora, humano?
E agora, humano?
Suas vagas palavras,
seu medo da febre,
sua ansiedade,
sua Internet,
seu ego ferido,
seu telhado de vidro,
sua vã existência,
e o ódio agora?
Com a chave na porta,
não a quer na mão,
sair não existe;
morrer pelo ar,
o ar já se espalhou;
quer voltar a uma vida,
que já não há mais.
Humano, e agora?
Se você andasse,
se você escrevesse,
se você brotasse
e o vício esmorecesse,
se não só dormisse,
ou se descansasse,
se você vivesse…
Mas você não vive,
você é frágil, humano!
Aflito e sem rumo
em concreto ilhado,
sem teleologia,
só parede fria
para desesperar,
sem o próprio tempo
que traga o presente,
você quer voltar, humano!
Humano, para onde?