Artigo de Opinião

O Mercado e caos

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Há uma cumplicidade enorme de agendas políticas e mediáticas. Pensa-se muito no efeito mediático das políticas, e tecem-se muito as opiniões em função do politicamente correcto. No meio disto, perdem-se perspectivas claras sobre este momento tão exepcional que vivemos. Temos de colocar algumas questões em tempo útil sobre o presente e o futuro, assim como fazer uma investigação retrospectiva. Sobre o futuro, vale a pena colocar e tirar as conclusões de uma pergunta base:

Esta pandemia é uma excepção irrepetível ou o prenúncio de uma nova regra?

A pergunta levanta duas hipóteses: novas vagas e novos vírus. Uma segunda ou terceira vaga invalida qualquer previsão económica convencional. Mas pior que isso seria assumirmos uma nova era, a era dos vírus. Entenda-se “vírus” lato sensu: desde tragédias naturais, colapsos financeiros, vírus informáticos (que, se calhar, podem abalar muitos sistemas…), mas sobretudo novas contingências. Podem surgir contingências que ainda nem sequer assumimos com um risco possível! E para melhorar a nossa resistência a choques há que regular os mercados, não há outra forma que seja uma possibilidade prática.

Sobre o presente, pergunta-se: onde está a inovação capitalista? Convenhamos, estas quarentenas não são propriamente métodos de “ponta”. Por muito que tenhamos evoluído em tantos outros aspectos, temos que recorrer a estas técnicas de isolamento mais ou menos medievais. O Mercado não cura vírus, são as Instituições que nos protegem.

Esta pandemia tem ainda de nos fazer tirar uma lição clara sobre a forma de globalização que tínhamos. Tem de se fechar o paradigma da “globalização feliz”. As vantagens da globalização que tínhamos pareciam ultrapassar tão largamente os prejuízos que deixamos de perceber que ela nos atirava para a lei da selva.

Entregamos tudo ao Mercado. E não houve entre países um “estado dos Estados”. Era a lei da selva, porque não houve entidades que fizessem prevalecer regras comuns entre os países, por exemplo, na dignidade humana, nas condições de trabalho e, entre outras coisas, no tratamento animal… Uma solução possível é entregar poderes de real regulação à ONU. Que não fique nenhuma dúvida sobre isto: este vírus surgiu na China e talvez pudesse ter sido evitado.

Não nos podemos deitar à sombra dos baixos custos do trabalho e produtos chineses, ou dos seus investimentos mundo fora, deixando passar esta pandemia em claro. Há que investigar a origem desta pandemia até às últimas consequências. Que isso vai ter custos diplomáticos, vai! Pode comprometer esta globalização liberal que temos, mas é necessário. Não digo que se apure responsabilidades, no sentido de punir. Mas é preciso apurar a verdade e prevenir casos futuros. Se for o caso, é preciso que a China limite os seus “petiscos” ao convencional. Pensar que um morcego na boca de um chinês do outro lado do mundo, parou a nossa vida, é a teoria do caos na vida real!

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