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Crónica

Criancices

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Nunca fui adepta do positivismo. É um “clube” irrealista, carregado por uma claque repetitiva e mais cansativa que as demais. Contudo, hoje acordei, equipei-me e comecei a aquecer só para poder escrever esta crónica.

Há muito quem desabafe que a vida é madrasta, que não nos dá descanso e que nunca se sabe o que dela se pode esperar. Ora, não questionando a legitimidade de quem assim se expressa, hoje apeteceu-me ver a outra face da vida e discordar de todos aqueles que a difamam por aí. Se pensarmos bem (ou não pensarmos de todo como eu), a vida não é mais do que uma criança de 6 anos e, como qualquer fedelho, gosta de provocar. Põe-se com brincadeiras e não sabe quando parar, quando já não queremos brincar mais com ela.

E então amua, faz-nos delirar com birras incompreensíveis e sorri para os restantes como se nada fosse. E é aqui que nos sentimos incompreendidos. Porque é que a vida nos maltrata com exclusividade? Porque não se atira desesperadamente para o chão quando os outros não lhe compram o que ela quer na fila do supermercado? “Porque é que a vida continua a querer brincar comigo?” é a pergunta que repito; e descobri finalmente porquê. Porque continuo cá para ela. Porque não desisto, nem a abandono. Porque mesmo depois de tudo, ainda não me conseguiu ganhar.

A vida encarna a criança mais teimosa e tenta levar a melhor daqueles que, podendo, nunca se vingaram. Reflete-se assim a sua imaturidade: recusa crescer connosco, enquanto crescemos com ela. Somos obrigados a tomar-lhe as rédeas no final de cada dia para que perceba que não foi hoje que nos venceu. Agora, que já é tarde, dizemos “xixi, cama” e descansamos que, amanhã, a vida continua.

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