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Artigo de Opinião

Opiniões em equilíbrio

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O dualismo é constantemente percetível no nosso pensamento. Existe uma propensão significativa para separarmos tudo em duas extremidades distintas: bem e mal, certo e errado, branco e preto. Existe uma polarização muito vincada na mentalidade humana. Torna-se quase impossível que duas pessoas com ideais políticos opostos tenham uma conversa natural em que cada uma ouve e aceita a posição do outro, ainda que não esteja de acordo. Há muita dificuldade em aceitar opiniões diferentes.

São os nossos valores, aqueles que construímos desde muito cedo na nossa vida, que determinam a nossa visão da realidade. Nunca estarão em harmonia entre si ou em harmonia com os valores das outras pessoas, mas tal não é razão para duvidarmos da sua validade ou, por outro lado, para os sobrepormos a tudo o resto. Serão mesmo estes valores criados e construídos desde cedo? Ou, por muito racionais que achemos que eles são, não temos uma influência tão grande na sua escolha como achamos que temos? Porque decidimos por uma coisa e não por outra? Será que importa se as nossas decisões estão ligadas aos valores que adquirimos há quinze anos ou há um dia? Ou se essas decisões advêm de um ímpeto estranho que sentimos em tantos momentos e que nunca conseguimos explicar? Talvez o essencial conflua nesses momentos e nunca nos compreenderemos por completo nem poderemos algum dia influenciar-nos.

A verdade é que seremos sempre subjetivos face à realidade que nos rodeia. As nossas opiniões individuais parecer-nos-ão, na maioria das vezes, imparciais e impreterivelmente corretas, mas não o são. No caleidoscópio de comportamentos e ideias que englobam a sociedade, nunca poderemos considerar as nossas opiniões objetivas. Nascemos e estamos presos à subjetividade. Batalhamos com a razão e com a emoção, esperançosos de que as conseguiremos, um dia, distinguir. Nem tudo é branco ou preto. A escala de cinzentos existe e ocupa a maior parte do espaço em que nos inserimos. E é nesse espaço que podemos crescer. É onde podemos ouvir outras ideias, partilhar as nossas e, em conjunto, decidirmos o que deve ser valorizado e o que não deve. Neste misto de pensamentos, podemos tentar ser intersubjetivos e integrar uma variedade de pontos de vista subjetivos no nosso espetro de conceitos que é mais maleável e abrangente do que achamos. Imaginemos um território onde cada um se dedica a espalhar o mais puro de si, sem a visão neutra e a imparcialidade que se pronuncia indolente através das nossas vozes cansadas. Imaginemos as cores que se pronunciariam, as disputas amigáveis em que participaríamos, os lados desconhecidos que passaríamos a conhecer, as novas vozes que passaríamos a ouvir e os rostos que pintaríamos novamente nos nossos corações, com tons mais vívidos e nítidos. Aí, nesse imaginado, mora a mudança.

É preciso aceitar, saber ouvir e refletir. Refletir para nós, mas refletir também com os nossos amigos, com a nossa família, com colegas de trabalho ou com o estranho que se senta à nossa beira no autocarro. Nunca ninguém nasce sozinho e, muito menos, cresce sozinho. Os nossos valores são nossos e são também de outros. Vêm de outros, vêm de nós, vêm da natureza e de tudo o que ela nos faz sentir. Por muito que achemos que eles são apenas nossos, desconhecemos uma grande parte da sua multiplicidade. A nossa verdadeira essência transparece nos nossos feitos, nas atitudes, nos sonhos… É preciso que se manifestem pessoas conscientes, em contacto com o seu verdadeiro eu. O objetivo não é hierarquizar opiniões, colocar as nossas num pedestal ou atirar as dos outros para debaixo de um tapete. O objetivo é que aquilo em que acreditamos nunca perca a sua força. Que essa força se manifeste em discussões justas e coerentes. Ao longo dos anos aprendi que ganho muito mais com o aproximar-me dos outros, do que ao distanciar-me deles. Nem toda a gente que conheço vai ter os mesmo ideais políticos que eu, defender as mesmas causas, gostar dos mesmos artistas ou das mesmas atividades. Não há problema. Crescemos entre a diferença. Aprendemos a partilhar, a argumentar e alargamos os nossos horizontes para dimensões antes desconhecidas. Todo este texto foi uma mera opinião. Se está bem ou mal? Prefiro antes dizer que está válido. Porque opiniões são válidas, seja através da escrita, de uma pintura ou de um discurso. A liberdade de expressão não pode ser reduzida ao nosso espetro de pensamentos. Não tentemos entender o porquê de gostarmos de algo, mas vivamos o gostar disso e deixemos que os outros o façam também.

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