Devaneios
Deambulo só, na manhã calma
Deambulo só, na manhã calma.
Atravesso pacatamente para a rua
Repleta de veículos apressados
Cuja velocidade é a mesma
A que percorrem os meus pensamentos,
Na memória confusa e opaca
De meu ser que dactilografa
E expõe a dor nutrida.
Sinto-me a flutuar na verdade cruel
Oprimindo e almejando que inverdade fosse.
Meu momento pensativo prossegue
À rapidez infernal dos automóveis
Que se desviam do meu corpo andante –
Infortúnio o meu, o de não me acertarem,
Porquanto a pairar no ar eu queria estar,
Acabando pouco depois no macadame quente,
Ensanguentado e cesso de pensamentos,
Cadáver, enfim, não sofrendo mais.
Miguel Barbosa