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Devaneios

Amor: Um Ensaio

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Quando se falava em sair de casa, sentia medo, está claro, mas reconfortavas-me tu. Dizias que mais valia segura do que arrependida. Que os tratamentos estavam a resultar porque tinhas ainda muito que viver e que não ia ser um bicho do século dos novos que ia acabar contigo agora.

Tantos anos a subir a árvores de figos – tu com mais anos em cima do que os frutos nos ramos dela –, lá ias, espalhando a juventude que em criança eu não tinha. Gaiata dos teus sessenta ensinavas aqui à miúda dos seus dez e poucos que a capacidade não dependia da idade que te aumenta-se a incapacidade nem da experiência que se acumula-se com ela; dando-te vontade, o resto lá ia.

Os anos passam. Apercebi-me, no outro dia, que uma amiga estava agora a criar uma filha que tinha a idade a fluir-lhe na pele como um dia a mim me aconteceu. Passou-se. Cresceu-se. Aprendeu-se. A lidar com isto de o tempo deixar marcas que o momento deixa passar despercebidas. Dizia ela, essa mãe de coração e cabeça, que a vida é o que fazemos dela e ela teve de fazer aquela coisa tão bonita.

Coisa bonita é também o ser apaixonado. Passei o dia alienada ao que me rodeava porque só queria estar perto de ti. Cada sorriso que me salta eufórico dos lábios te pertence.

Aquilo que deixa sempre o sentido de lado é o amor. Se amar deve ser algo incondicional, procuro, ainda, saber de que forma. Há tanta gente digna de recebê-lo, tanta coisa que deve ser adorada, amada. O adormecer, no calor de um cobertor apertado ao corpo, com a cabeça às voltas por estrelas que não podem ainda ser alcançadas, de tão bem içadas que foram no céu escuro que paira nas nossas cabeças. Aquilo que sempre guarda sentido é o amor.

Não tenho certezas se estas palavras servem para escrever cartas de amor ou episódios de ti.

 

Carina Baptista

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