Crónica

Mundo digital à mesa

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A quantidade de horas que um adolescente consegue passar à frente do telemóvel ou de um computador é absurda. E é certo que os mais velhos estejam sempre a dar-lhes na cabeça, mas, inevitavelmente, eles próprios começam a recorrer, excessivamente, a estes aparelhos eletrónicos.

Para além de desnecessário, chega a ser incomodativo num jantar de família ou até mesmo num convívio entre amigos ouvir múltiplos “plim”, alguns em uníssono. Ou é uma mensagem, um like, talvez um comentário, ou até um email – quem sabe, se calhar uma mera notificação a dizer que Pedro Porro deu a vitória ao Sporting.

O problema está, efetivamente, quando tornamos este comportamento banal, ou assim tentamos. A verdade é que mesmo que quiséssemos ignorar o som irritante transmitido pelo nosso dispositivo móvel, não conseguiríamos. E tal deve-se à dopamina, que é libertada no nosso cérebro assim que recebemos qualquer tipo de notificação. Esta substância química é a mesma que é libertada no consumo de drogas. Por outras palavras, a dopamina alimenta o nosso sistema de recompensa e vícios e nós, naturalmente, permitimos que aconteça.

Penso que é aceitável afirmar que estamos todos numa relação tóxica com estas maquinetas. Não nego que precisemos delas, mas vêm com um preço acrescido, do qual não temos plena consciência. É um vício duradouro, e aqui, tanto incluímos os mais jovens – os ditos viciados – como os adultos – por enquanto, numa porção menor.

Esta mania atual, acentuou-se, claramente, com as redes sociais, sendo as principais: Facebook, Twitter e Instagram. É possível dividi-las por faixas etárias. Ora, o Facebook é, de momento, direcionado para os mais velhos (os ditos “donos da razão” e, por isso, em alguns casos, não se cansam de escrever barbaridades na mesma). Porém, o mesmo acontece com o Twitter, mas este pertence aos jovens. A particularidade da primeira rede social é a exacerbada quantidade de fotos do menino Jesus com a descrição “Partilha para salvar…” e o resto fica ao critério de cada um, dependendo dos eventos que vão acontecendo pelo mundo.

Por fim, temos o Instagram, diria que é a mais tóxica e, consequentemente, a mais viciante. Toda a gente é ridiculamente feliz – normal assim parecer, ninguém gosta de admitir ou postar uma foto quando se encontra miserável.

Todas elas parecem inocentes, meras aplicações que foram criadas para o nosso entretenimento. Que conceito! Contudo, o quão assustadoras e perigosas elas são, que refletem a toda a hora um mundo utópico a nível de felicidade. Para não referir a quantidade de fake news que por estas circulam – é infindável.

A verdade é que cansei. E preferia discutir, ouvir algumas gargalhadas ou somente ouvir o telejornal em sossego em vez dos sons insuportáveis e distintos dos telemóveis em cima da mesa.

 

Inês Silva

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