Crónica
A saúde mental durante a pandemia
Uma vez que esta situação é nova para toda a gente, torna-se difícil saber o que podemos fazer para combater a ansiedade e angústia num período onde nunca sabemos se o dia de amanhã vai ser pior do que hoje.
No primeiro confinamento que vivemos, assistimos a algo que nos pareceu surreal, as pessoas dirigiam-se até aos supermercados para se abastecerem de produtos básicos, de forma exagerada. Estas ações refletiam o medo e a incerteza do que estava para vir.
De repente as ruas enchiam-se de silêncio e o frenesim começou a acontecer na mente das pessoas. Sabemos que ligamos o televisor e somos confrontados com números de novos de casos de infeção e, infelizmente, de mortes. Números que são pessoas, vidas e famílias que se encontram cercadas por este vírus e pelas consequências do mesmo. Eu tive familiares infetados, felizmente não sofreram complicações, mas o facto de saber que tinham contraído o vírus deixava-me receosa, ouvir as notícias sobre os internamentos na unidade de cuidados intensivos, deixava-me e deixa-me extremamente nervosa, a minha respiração torna-se diferente e o meu coração bate mais rápido do que o normal.
As notícias tristes e dramáticas geram emoções negativas. As pessoas sem qualquer perturbação mental sentem-se afetadas, mas esta situação torna-se ainda mais difícil para pessoas com perturbações mentais, que veem os seus sintomas agravados.
Depois de várias reflexões, sobre o que estava a acontecer com o mundo e com as pessoas, tive a necessidade de encontrar formas de me refugiar de todo o negativismo e manter uma atitude positiva. Defini desde logo que devia deixar de procurar notícias relacionadas com a pandemia e ver apenas uma pequena parte dos telejornais, achei importante absorver apenas informação necessária, para não encher a minha mente de informações que me causassem ansiedade. Comecei a fazer exercício físico para manter a forma física e mental. Exercitar o nosso corpo ajuda-nos a relaxar e permite-nos ter um sono melhor. O exercício físico feito de uma forma regular pode ser uma boa solução para as pessoas que sofrem de insónias, causadas pela ansiedade e nervosismo.
Também aproveitei o primeiro confinamento e agora este, para me aventurar na cozinha, comecei a experimentar receitas, umas para adoçar a vida e outras mais saudáveis. Sempre achei importante encontrarmos o equilíbrio necessário na nossa alimentação, contudo, acho este equilíbrio ainda mais importante numa altura que somos forçados a passar mais tempo em casa.
Por fim, vou falar de dois refúgios que encontrei e que me têm ajudado bastante nesta fase. Nos momentos de reflexão que tive, tentei encontrar algo que, na minha opinião, fosse sinónimo de conforto, a primeira palavra que me veio à cabeça foi sem dúvida “infância”, por ser o período da nossa vida onde acreditamos num mundo mágico e era nesse mundo que eu queria viver. Para voltar a sentir essa magia, comecei a ver vários filmes da Disney, vejo-os com alegria, a magia não muda e o meu coração volta a bater como o de uma criança. As músicas da minha infância também me confortam e transportam-me para memórias bonitas e nostálgicas que me abraçam de forma calorosa. Numa altura onde devemos estar com os pés bem assentes na terra, eu consegui levantá-los um bocadinho para procurar um refúgio e foi das melhores coisas que fiz.
No meu ponto de vista, é importante vivermos esta fase de forma consciente e estarmos informados, mas em simultâneo devemos procurar coisas que nos transmitam para uma realidade diferente e mais reconfortante.
Se não conseguir manter a calma, se estiver a ser difícil controlar a ansiedade, se sentir que a sua saúde mental não está numa boa fase é importante saber que existem linhas de apoio para o auxiliar, passo a citar algumas:
Linha de apoio psicológico: 808 24 24 24 (opção 4)
Conversa Amiga – 808 237 237
Linha SOS Palavra amiga – 232 42 42 82
Estamos todos no mesmo barco, remamos num mar agreste ansiosos por avistarmos a normalidade. Se remarmos na mesma direção e procurarmos o bem estar individual e coletivo, chegaremos lá mais cedo.
Inês Ribeiro