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Artigo de Opinião

Eles falam, falam, falam…

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A opinião pública está inundada de prognósticos de final do jogo. Ninguém comenta as opções de investimento de um banco, ninguém aconselha um professor de matemática sobre as melhores abordagens à matéria, ninguém invade o cockpit de um avião para aconselhar os pilotos sobre a melhor rota. Nem que o avião esteja em queda livre. Por uma razão muito simples: não é a nossa área. Por que razão nos tornamos, então, todos epidemiologistas, médicos intensivistas e gestores catedráticos de pandemias?

Das pequenas histórias aos grandes casos, tudo já foi repetido ad nauseam.

Estamos a meio de uma pandemia. Temo que alguns ainda não se tenham apercebido disso. Habituados a viver na paz deste canto da europa (mas centro do globo), também conhecido como o terceiro país mais seguro do mundo, mergulhamos num estado de emergência constante, que se arrasta há meses, contra um criminoso mais maléfico e horripilante do que qualquer ladrão, um vírus. Vivemos tempos inéditos, em que sobram críticas e o que mais falta são certezas sobre quais as medidas mais eficazes.

O Governo tem sido preso por ter cão e por não ter. O caso mais esclarecedor desse encarceramento foi o Natal. O alívio concedido às famílias para o convívio e celebração da época festiva foi o abrir a porta das casas à covid-19. Nessa altura, todos os partidos foram a favor de proporcionar à população portuguesa um alívio psicológico de meses de confinamento e medidas restritivas, numa altura tão importante para os católicos, a grande maioria do país. E esse era um argumento relevante e legítimo, os problemas psicológicos e a solidão dos mais velhos não podem ser desvalorizados. Contudo, as críticas acesas a essa decisão têm agora uma força que não tiveram quando as medidas foram divulgadas. Aqui se prova a dificuldade de gestão desta crise sanitária.

Sou obviamente a favor do escrutínio das instituições, de uma oposição forte e diversa, da luta pelo progresso e pelo desenvolvimento e da correção de falhas anteriores, para não se repetirem nem passarem despercebidas pelos pingos da chuva.

Todavia, a linha é ténue entre criticar corruptos e incompetentes a contribuir para a quebra de confiança nas instituições que nos governam, já descredibilizadas por milhões de portugueses que se fizeram ouvir nas últimas eleições presidenciais, quer em votos de protesto, nulos, em branco ou no simples mas estrondoso não comparecimento nas urnas.

Proponho aos comentadores e a todos os críticos antecipar um problema. Um único problema. Desenvolver uma solução no seu devido tempo. Arregaçar as mangas e deixar a verborreia. Apenas apontar erros passados não resolverá desafios futuros. Há problemas a chegar que necessitam de uma resposta à altura. Não peço bruxos nem professores “Chibanga”, peço mais capacidade de previsão e menos hipocrisia. Essa sim seria uma colaboração útil.

Uma coisa é certa. O Governo voltará a cometer erros de gestão da pandemia, as famosas “polémicas” vão continuar a incendiar as caixas de comentários das redes sociais e os comentadores vão, nessa altura, dar todas as soluções para os problemas que já aconteceram. É um círculo vicioso que nem com a pandemia irá desaparecer.

 

Artigo da autoria de João Paulo Amorim

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