Crónica
A ilusão do “para sempre”
Dizem que as crianças são felizes sem o saberem. Talvez seja exatamente essa ignorância que lhes permite alcançar a felicidade. Só são assim porque não sabem que o são, caso contrário dariam por si a pensar que aqueles momentos não iriam durar para sempre, em vez de os aproveitarem realmente.
É precisamente isso que sucede quando crescemos um bocadinho. Se por acaso nos apercebemos que estamos felizes, lembramo-nos que aquela fonte de felicidade eventualmente irá secar, e uma enorme tristeza abate-se em nós. A solução é converter essa inquietação em combustível que nos fará desfrutar ao máximo enquanto podemos.
Eis o problema da maioria das pessoas: viver com o desejo de que tudo o que proporciona prazer seja infinito. Lamento, não é. Na verdade, tudo é temporário, o que por um lado é um sinal de esperança, pois significa que o mal também acabará por passar. Andar constantemente com os olhos postos no futuro, preocupados com a duração dos acontecimentos, impossibilita-nos de ver o que está mesmo à nossa frente.
Se tivéssemos consciência de que as coisas não precisam de ser eternas para terem valor, se aceitássemos que tudo na vida é constituído por momentos, por pequenos e finitos “para sempre”, e por pessoas com início e fim, viveríamos mais leves e menos ansiosos. Não sofreríamos tanto por antecipação e a dor do fim transformar-se-ia num “estou contente que tenha acontecido”. Em vez de chorarmos mortes, celebraríamos vidas.
Quando algo muito bom está prestes a acabar parece o fim do mundo, mas é só uma despedida que vai deixar espaço para que um novo começo brote. Porque, mesmo quando uma fonte seca, a imensidão do oceano traz sempre à costa novas maneiras de sermos felizes. Mergulhemos de cabeça no agora.
Artigo da autoria de Inês Martins