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Opinião

O negócio das vacinas

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A vacinação em massa é a grande arma que temos hoje em mãos contra a COVID-19 e o seu efeito benéfico começa, aos poucos, a fazer-se sentir nas estatísticas do nosso país e um pouco por todo o mundo.

Segundo dados do PÚBLICO, aproximadamente 4% da população portuguesa está vacinada.  O atual ritmo de vacinação, isto é, a administração de cerca de 24 mil doses por dia, pragmaticamente traduzir-se-á em 70% dos adultos vacinados em agosto de 2022, colocando a meta de ter toda a população vacinada antes do final do verão deste ano num patamar inatingível, a não ser que a nossa capacidade de vacinação triplique! Levantam-se as seguintes questões: O que seria necessário para que tal acontecesse? Qual é o obstáculo? Ainda será sensato ter esperança nessa meta?

Ora, o ritmo a que as farmacêuticas estão a produzir as vacinas está muito aquém do que seria necessário e urgente à escala mundial.

Numa face da moeda temos a procura pela imunidade e o desejo de regressar à vida normal, na outra face temos as patentes como garantia do monopólio das indústrias farmacêuticas. Estima-se que o mercado de vacinas chegue às dezenas de milhar de milhão de dólares em vendas anuais para algumas empresas farmacêuticas e respetivos acionistas.

Tratando-se de uma crise sanitária global, a chave para aumentar astronomicamente a velocidade do processo de vacinação está na libertação das patentes e na multiplicação dos locais de produção. Contudo, esta última não é assim tão fácil quanto possa parecer, pois estamos a falar de processos biotecnológicos complexos, que exigem enormes capacidades industriais e profissionais altamente qualificados. Na AR, o Primeiro-Ministro afirmou que Portugal não tem capacidade para produzir vacinas no imediato.

Na última semana, o assunto mais abordado foi a vacina da Astrazeneca e a sua eventual relação com tromboembolismos. Face a isto, a OMS comunicou que “os benefícios sobrepõem-se aos riscos” e a Agência Europeia do Medicamento (EMA) investiga a possível relação entre a toma da vacina e os casos registados.

Os ensaios clínicos pelos quais as vacinas têm de passar antes de ser aprovadas, têm algumas limitações, nomeadamente o número limitado de participantes alocados, o tempo limitado de monitorização e os critérios de exclusão que se aplicam a crianças, idosos, grávidas, pacientes polimedicados ou com comorbilidades. Assim, reações adversas raras serão muito difíceis de identificar durante os ensaios clínicos e é provável que, tal como na maioria dos medicamentos, sejam notificadas várias reações adversas durante os primeiros anos no mercado, algumas com relação de causalidade, outras inconsistentes e sem fundamento. Assim, é importante que os media abordem este tipo de temas com uma certa cautela, pois vivemos numa sociedade em que a literacia em saúde não é tão elevada quanto desejável e as fake news difundem-se instantaneamente.

Paralelamente a isto, há um fenómeno que cresce a nível global, desde o início deste processo – o número de fraudes na vacinação, investigadas pelo Ministério Público – desde inúmeros autarcas e seus familiares, a diretores e funcionários administrativos de lares de idosos e IPSS vacinados na primeira fase de vacinação, sem qualquer critério para tal.

Caso estejam ingenuamente iludidos de que a antropofagia social não é uma prática comum nos dias de hoje, desenganem-se! Atualmente, há mais transparência, no sentido em que a comunicação social está mais alerta e permite que tenhamos acesso a estes casos. Já as pessoas, essas, no geral, não se tornaram mais transparentes e estas práticas desumanas são já velhas.

Ambicionar cargos de poder e liderança e mais tarde sobrepor os seus interesses aos daqueles que escolheram representar ao assumir esses cargos é um filme mais do que visto na história da humanidade. Aproveitam-se do poder, esquecem valores, atropelam os direitos dos outros e, ao comer os “pequenos” satisfazem a sua ganância, acabando eles próprios por se tornar menores que uma formiga, numa perspetiva kafkiana.

Em tempos de pandemia, a união devia imperar mais do que nunca e os interesses, quer individuais quer das farmacêuticas, deveriam estar sepultados, pois a última coisa de que a nossa sociedade precisa é de uma crise de valores, para além da crise sanitária, económica e política que vivemos. Que os escrúpulos nunca nos abandonem e a corrupção não esteja no meio de nós!

 

Artigo da autoria de Mariana Batista