Alcunhas? Não.

Proponho a abolição das alcunhas. Não as entendo, e considero que estão mal feitas. Acima de tudo são confusas. Um garino chama-se Joaquim, mas caprichosamente decido chamar-lhe Quinzinho. Amanhã, haja vontade, até me sai um Quim, só para variar. Está mal! É claro que está mal!

Repare-se, eu tenho três tios: o Tono, o Toni, e o Toné. No outro dia, descobri que afinal são todos António. Considero isto um flagelo.

Pior que os Toninhos só a praga dos Manueis. Veja-se o que acontece quando um bebé nasce. No papel, o nome é Manuel. Na prática, será Manel para todos, Nelinho para a família, Manu para os amigos, Nel para a esposa, e tio Nelo quando chegar a altura. E coitados dos Josés! Esses, mais vale que assinem logo com Zé, fujam do Zeca e rezem para não serem Zezinhos. E quando se chamam José Manuel, José António ou António Manuel? É uma calamidade.

Os nomes das senhoras não ficam atrás. Olhe-se para as Nocas. Para além de terem mais onomatopeia que nome, é o quê? Leonor? Inês? Nicole? Noémia?! Não sei, senhores! E se vão usar alcunhas ao menos façam-no com algum recato. Penso que é o mínimo. São coisas que não se devem fazer em público, tal é a obscenidade. É que estava eu no supermercado e ouvi: “Mel! Há quanto tempo! Que saudades!”. Mel? A verdade é que não entendi a euforia. Particularmente porque não sou grande fã. Como adoçante prefiro açúcar, e nas panquecas tenho por hábito espalhar compota.  É então senão quando me apercebo que o mel afinal era uma senhora. Todos temos um momento Nikita, aparentemente. Agora, resta-me ser consumida pela curiosidade insatisfeita que padece da necessidade ardente de saber o verdadeiro nome da “Mel”. É Amélia? Mélanie? Melânia? Melancia?!

E as Mias? Se não são Wallace então não vale. Ficamos já esclarecidos. Eu sei que é um nome todo catita, mas em português quem mia tem quatro patas, lava-se com a língua e encontra uma alegria imensa em brincar com camisolas de lã que ainda não o são. Mia… Em linguagem de gente isso é o quê? Maria? Mariana? Maria Inês? Como é que eu sei?! É que o Francisco tanto é Xico como é Quico; o Filipe é Lhipe, Lipe, Pipo e Pepe (quando não é Felipe por defeito). Se uma Tina é Cristina, porque é que o Tino de Rans não é Cristino?! Eu desisto.

Artigo da autoria de Inês Araújo Silva