Devaneios

Três poemas: Acordar o golpe para relembrar vida

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Tangerina branca

O cavalo branco não queria

Cavalgar por estímulo manual

E nunca pediu quatro ferraduras

bem duras

Mas não se queixa

o relinchar vem sem propósito

É por ser cavalo que nada almeja

Sem desejos

Não se resigna

Nem se frustra

Vive para preenchimento alheio

Mas o homem morre

sem o conseguir

 

A queda de um anjo

Caíste da nuvem mãe

Num invólucro redondo resinoso

Embateste em areia seca

e o corpo a teu redor

foi-se fragmentado

como casca de ovo

Primeiro surgiste com a cabeça

de olhos semicerrados

aleijados pela luz

abriste a boca

para a comer

mas a luz não te saciou

então

abriste a boca

para emitir sons agudos

e em direção a ti

correu um povo

que te posicionou

em meia lua

Deram-te líquido mágico

que amaste

A primeira vez

que se ama

não se devia esquecer

A terra suga a resina para aprender a fazer vida

 

      Metafísica refletida

Pensar em balões com imagens

que nos gritam ao ouvido

surdo

ver os termos a flutuar

dilatando-se na forma

encolhendo no sentido

Às vezes parto a jarra

de há mil gerações

e bebo de um só pedaço

pedaço só

E os balões vão para mais longe

E nunca rebentam

Tão forte o grito

que os encheu de vida

Persistem

etéreos

neblina de conceitos

que Deus soprou no meu funeral

 

 

Artigo da autoria de Márcia Branco

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