Artigo de Opinião
Visibilidade Trans: o tão importante 31 de março
O Dia Internacional da Visibilidade Trans, tal como o nome indica, proporciona um maior reconhecimento da comunidade trans, assim como da não-binária e da intersexo, dando um “espaço” onde se amplificam as vozes destas pessoas. Não só se comemoram os feitos das comunidades referidas, como também se tenta consciencializar a população sobre a discriminação que elas sofrem. Discriminação essa que, infelizmente, ainda está muito presente.
Há determinados estudos, como o inquérito feito pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA) em 2020, que demonstram Portugal como um país maioritariamente tolerante face à comunidade LGBTQIA; porém, nestes últimos dias, falei com pessoas trans sobre discriminação e, confesso, o nosso país não é assim tão tolerante quanto à comunidade trans.
Desde perguntas invasivas sobre a sua intimidade e genitais até tratar as pessoas trans pelo seu deadname (nome de nascimento que, entretanto, é alterado e descartado), infelizmente, a sociedade portuguesa ainda evidencia atitudes e comportamentos altamente discriminatórios face às pessoas trans. Consideram-nas como “outros” em vez de seres humanos normais, que simplesmente se identificam como tendo um sexo diferente do atribuído à nascença.
Ainda no início deste ano (sim, em 2021), uma mulher trans, Angelita Correia, foi encontrada morta perto da Praia de Matosinhos depois de estar desaparecida há vários dias. Isto por si só já é extremamente cruel e prova a forte discriminação trans no nosso país, mas o problema é que não é a primeira vez que isto acontece. Há 15 anos, Gisberta Salce Júnior, uma mulher trans brasileira, foi espancada e violada por 14 jovens e foi encontrada morta no fundo de um poço.
Por isso, sim, Portugal ainda discrimina muito as pessoas trans e é por causa disto que o Dia Internacional da Visibilidade Trans é tão mas tão fundamental. É importante educar as pessoas sobre a discriminação face a esta comunidade e é ainda mais importante escutarmos as próprias pessoas que sofrem com essa segregação em primeiro lugar, pois com elas podemos aprender imenso sobre como abordá-las, que palavras ofensivas devemos apagar do nosso vocabulário, entre outros aspetos.
Entretanto, muitas figuras importantes para a comunidade trans, lamentavelmente, são pouco conhecidas pela maioria da população ou até mesmo esquecidas. Contudo, com o Dia Internacional da Visibilidade Trans, pessoas como Gisberta Salce Júnior, Marsha P. Johnson (drag queen afro-americana que foi uma das figuras mais importantes na Revolta de Stonewall, nos EUA, em 1969, onde lutou fortemente pelos direitos trans), entre muitas outras, são homenageadas, assim como os seus legados e as suas contribuições para a comunidade. Desta forma, mais gente conhecerá estas figuras de extrema preponderância para as pessoas trans, aprendendo também sobre a própria história da comunidade.
Igualmente, o Dia Internacional da Visibilidade Trans destaca os feitos e as conquistas da comunidade, o que, de certa forma, faz com que haja um maior empoderamento das pessoas com essa identidade sexual e, assim, faz com que seja criada uma onda de orgulho por fazerem parte da comunidade.
Toda a gente deveria marcar o dia 31 de março como uma data importantíssima não só pelo facto de dar voz e notoriedade às pessoas trans, como também pelo facto de evidenciar a discriminação face à comunidade. Se soubermos mais sobre este assunto, ficaremos mais conscientes acerca dele, reconhecendo o seu caráter cruel e desumano e, assim, podemos tornar-nos mais tolerantes e ficar cada vez mais próximos do fim da discriminação trans.