Opinião

Pensamentos sobre o sistema de ensino em Portugal

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Nos últimos tempos, o ensino recebeu um pouco de protagonismo debaixo dos holofotes dos media e foi alvo de inúmeras críticas, em resultado das alterações que se viu obrigado a sofrer.  Porém, um assunto que aparentemente não parece ser merecedor de atenção é o sistema de ensino existente. É inegável que Portugal como país desenvolvido que é, apresenta um panorama geral favorável no que diz respeito ao sucesso do ensino.  Contudo, as lacunas existem e, como tal, é necessário debruçarmo-nos sobre elas e fazer o que for necessário para as combater.

Em primeiro lugar, o aspeto mais evidente diz respeito às desigualdades socioeconómicas. Nem todos temos a sorte (sim, sorte… não há outro nome senão sorte) de pertencer a uma família que nos fornece todas as bases necessárias ao nosso desenvolvimento e que nos estimula. Nem todos temos acesso às mesmas condições e olhando para inúmeros casos de estudantes dos mais diversos anos de escolaridade é óbvio que existe uma falta de apoio aos grupos mais carenciados e que esta deveria ser complementada fornecendo ferramentas aos encarregados de educação. Quando se fala de ensino é comum associar-se este termo à instituição, às escolas… mas, a verdade é que ensino e educação são aliados – e esta última, a educação, já está intrínseca a cada um de nós e é resultado das nossas vivências e, por isso, vai muito para além dos momentos escolares.

Em segundo lugar, sendo o ensino obrigatório a base que catapulta os cidadãos para as suas vidas futuras, é fundamental instruir não só no que diz respeito a conteúdos técnicos, mas também no desenvolvimento das competências sociais.

Outro aspeto merecedor de alguma reflexão são as características que visualizamos ao recordar uma aula seja do ensino primário, do ensino básico ou do ensino secundário. Chamemos-lhe a sala de aula estereotipada. Na atualidade, o espaço existente para atividades em grupo e interdisciplinaridade é extremamente reduzido. O proporcionar tarefas com este caráter permitiria incentivar o espírito de entreajuda e dar oportunidade aos alunos com mais dificuldades de expor as suas dúvidas. (Enquanto que perante toda a turma um aluno se poderia sentir reticente em partilhar as suas dificuldades com o professor, um grupo mais reduzido e a comunicação com os colegas poderia ser uma estratégia bastante favorável). Neste sentido, porque não optar por salas com diferentes disposições das atuais e que promovam a comunicação e interação?

Após a visualização idílica desta sala de aula alternativa, descobri que ela, de certo modo, existe e podia até ser encontrada em Portugal. Na verdade, estas ideias estão subjacentes a um método que se denomina de Método Montessori. Este método é especialmente direcionado para o pré-escolar e para o ensino primário mas tem por base algumas ideias que deviam estar mais presentes no método de ensino atual. Esta pedagogia tem o intuito de dar uma maior liberdade e autonomia às crianças, no sentido em que elas têm a oportunidade de explorar o que as rodeias ao seu ritmo. Maria Montesorri, pedagoga e médica italiana nascida em 1870, dá nome a este método educativo e valoriza a persistência e defende que as dificuldades e tentativas por parte da criança devem ser vistas como parte do progresso. Ou seja, se ela acredita que é capaz sozinha, não devemos ter a tendência de ir imediatamente corrigi-la. Independentemente do quão lento possa ser o progresso, o importante é que a este se encontra subjacente o conceito de autoeducação.

Um exemplo de uma escola fora do comum é a Escola da Ponte em São Tomé de Negrelos, distrito do Porto. Esta escola, com mais de 40 anos de história, abrange alunos do 1º ao 9º ano de escolaridade. Algumas características que a diferenciam das escolas tradicionais é o facto de não existirem turmas nem aulas por disciplina, nem mesmo testes em datas marcadas pelos professores. Cada aluno cria o seu plano e organiza um estudo adequado a si. Com o apoio de um tutor são planeadas as tarefas diárias com o intuito de cumprir o plano. Aqui, as salas de aula comuns dão lugar a áreas de trabalho que permitem aos alunos trocar ideias com os colegas, explorar e adquirir conhecimento através de diversas fontes: livros, dicionários, internet, vídeos, entre outros. Quando estes se sentem preparados para serem avaliados transmitem-no e é aí que ocorre um momento de avaliação. Ou seja, esta estratégia permite que cada um tenha o seu ritmo e guie a sua aprendizagem de acordo com as suas necessidades. Por sua vez, os professores, tradicionalmente conotados com o papel de expor os conteúdos a lecionar, transformam-se em orientadores educativos.

Passaram-se tantos anos e esta escola continua a existir e a ter estratégias que a distinguem da maioria. Porque não implementar algumas destas ideias em mais escolas? Vivemos num país pequeno, mas a nossa visão não se devia limitar às fronteiras. Porque não olhar para o sistema de ensino finlandês, por exemplo?

 

Artigo da autoria de Inês Beatriz P.

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