Artigo de Opinião

O chulo catedrático

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O chulo catedrático não nasceu ladrão, mas devia, porque extorquir está-lhe no sangue. Vemo-lo quase diariamente, a fingir auxiliar alunos de mestrado ou a ter dificuldades em criar reuniões no Zoom. Pertence a uma praga que teima em não desaparecer, desfilando pelos corredores de faculdades com o rabo entre as pernas.

O chulo catedrático é aquele professor que todos nós, alunos, já tivemos pelo menos uma vez na nossa vida universitária. A personagem que, mais cedo ou mais tarde, mostra discretamente numa apresentação um livro, que por acaso é da sua autoria e que por acaso é o livro que é preciso estudar para passar à cadeira.

Um professor fazer do seu próprio livro material obrigatório de estudo para um exame, apesar de não ser burla nem fraude, é juntar a ética e a deontologia numa mesa e fazê-las rir à gargalhada.

Um professor recomendar o seu próprio livro é pecar por se vangloriar de forma narcisista, tornando-se no belo pavão do anfiteatro, num momento chato de publicidade (que infelizmente não dá para ignorar decorridos os primeiros cinco segundos, como no Youtube). Contudo, fazer do seu próprio livro material obrigatório de estudo para um exame, apesar de não ser burla nem fraude, é juntar a ética e a deontologia numa mesa e fazê-las rir à gargalhada.

Da filosofia ao direito, do jornalismo à economia, todas as artes estão repletas de grandes escritores, génios, autores de obras que mudaram mentalidades e marcaram gerações. Nenhum desses é agora professor. Com tanta qualidade, será mesmo o livro do docente que leciona a cadeira a melhor obra a estudar?

Podes estar agora com uma dúvida: por ser um professor ladrão, não seria mais correta a expressão “catedrático chulo”, ao invés do contrário? Enganas-te, pois o roubo e o aproveitamento é que vieram no ADN, não a arte do ensino. Um bom ladrão arranja o melhor disfarce para passar despercebido, e não há melhor encobrimento do que entrar nos quadros de uma faculdade.

O ensino superior é um elevador social. É uma das melhores formas de desenvolvimento de um país e uma das melhores formas de garantir uma vida estável para qualquer pessoa. Por essas razões, é chocante ver como tantos professores desprezam estes factos e se aproveitam daqueles que apenas querem aprender (e ir a algumas festas, admito).

Assim, ajoelho-me perante todos os piratas informáticos que desbravam os mares da Internet (quais Descobrimentos) e nos fornecem gratuitamente o tal livro do professor (que acabamos por não ler, preferindo confiar nos resumos). Obrigado a esses, pois desta maneira temos a escolha de não deixar mais uns trocos nos bolsos do chulo catedrático. Quer dizer, do Senhor “Professor”.

 

Artigo da autoria de João Paulo Amorim

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