Crónica

Nabos da púcara

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Tenho pensado muito. Digo-o com um certo pesar, mas é verdade. Tenho pensado tanto que os poucos neurónios que me restam já fizeram o favor de me apresentar um pré-aviso de greve para os próximos tempos.

No que é que eu tenho pensado? Ora, apercebi-me de dois fenómenos que apreciava ver debatidos. Constatei que são assuntos dos quais não se fala e considero que já é tempo de isso acabar.

Primeiro: Porque é que as pessoas com a máscara parecem celebridades? É que eu juro que no outro dia vi o David Beckham e o Bruno Cabrerizo no Pingo Doce. Um estava a abastecer-se de azeite Gallo e o outro estava a perguntar à senhora da peixaria se as sardinhas têm glúten. O mais estranho disto tudo é eu saber quem é o Bruno Cabrerizo. Culpo a Covid que nunca tive.

Voltando ao cerne da questão, ontem, quando fui à lavandaria, posso assegurar que vi a Raquel Strada a colocar amaciador na máquina de secar- e não, não me enganei. Ou era a Raquel ou a Helena Sacadura Cabral. Ou uma ou outra. Tenho a certeza. Que me caiam aqui os olhos!

Ah! E hoje vi o Ricardo Araújo Pereira no autocarro. O coitado viu-se obrigado a sair na paragem seguinte porque não tinha moedas para o bilhete.

A segunda questão que me tira o sono é de uma pertinência monumental e envergonha-me viver numa sociedade em que estas atitudes ainda saem impunes. Toda a minha vida ouvi: “Ai! És tão esquecida! Andas a comer muito queijo!”. Porquê, senhores? É que eu fiz a minha pesquisa- arriscando-me a perder mais um ou dois neurónios- e descobri que isto não tem qualquer fundamento. Portanto, eu só gostava de saber quem foi o espírito iluminado que começou com isto. Desde quando é que passou a fazer sentido associar características a alimentos? “Olha que andas muito irritadiço! Deves andar a dar-lhe nos coentros como se não houvesse amanhã!”. Ou então: “Aquele senhor é de uma sensatez… Deve chafurdar na curgete, com certeza!”.

Mas está tudo bem avec la tête? “A cenoura faz os olhos bonitos”. Então quê? O melão torna o rim mais charmoso, não? É porque se não for ilegal uns abestados andarem aí a confundir o mundo, eu não sei onde é que isto vai parar.

Já agora, se alguém que consome muito nabo tiver neurónios que me empreste, eu agradecia. Dizem que torna o cérebro mais ajuizado.

 

Artigo da autoria de Inês Araújo Silva

 

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