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Devaneios

Menina Corpo de Lírio

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Era a menina corpo de lírio.

Sempre que a aveludada brisa beijava as suas pernas, logo as ancas respondiam balançantes, frívolas de natureza.

Carregava – em compromisso diário – a cantarinha que enchia com água e com um elemento mais puro, que era a sedução vertida na inocência cândida.

O sorriso alongado era condizente com os caminhos da aldeia e dele brotava um som de épica euforia. Quem o escutava, tornava a ser criança risonha, em paz e arvoredos.

Eu imagino-me a escalar desde as suas contornadas coxas até aos seus cabelos carimbados pelo sol e a emergir devotadamente na aura frenética, de tons luminosos, que gritam, chamam e cegam de desejo!

E sempre a querer, querer muito ser partícula incorporada no contorno da felicidade, que tem formas femininas e lábios sabedores dos segredos da floresta.

Ei-la, a menina copo de lírio, carregando o peso diário nos braços-folha. É visível que o sol não a deseja por inteiro, mas é ele que sorve tons ao rio para dar ao seu olhar a cor nítida, refletindo a dança livre das formigas em volta de um castanheiro.

Ai! Ai! Eia! Menina corpo de lírio, que bem danças ao luar sem ninguém a infligir-te a direção! A coruja aproxima-se para dar impulso e a noite grava uma sombra de preenchido contentamento! A brisa regressa velhinha e as tuas ancas obedecem naturais. Depois, aceitas a luz de um pirilampo perdido para veres melhor o mato onde te deitas e integras a terra.

Colhes um lírio, de olhos fechados, e erguendo apenas a mão direita, cola-lo ao peito como se fosse um ímpeto plantá-lo em ti. Mesmo em repouso és vibrante alegria, e o teu riso ecoa por toda a planície.

Temo não saber existir feliz e oro por ser inseto ou aragem, para te atravessar inteira e te roubar parte da inocência, sabida em montes e flores e luas que embalam.

Menina corpo de lírio, rebolas e crescem plantações vívidas de cor e de realidade. Cantas-lhes o mistério da simplicidade e amadurecem à medida do teu amor.

E mais uma brisa passa e deambulas sedutora, de cantarinha nos braços, sussurrando às flores, sorrindo às aves, saudando os campos de milho, ignorando que passo por não ser parte do que crês em verdade.

Estendes num movimento leve a cantarinha até à fonte e reparas que não há água.

Aceitas isso numa canção trauteada e giras em torno de um novo caminho, amando o teu pacto diário.

Não sabias, não, querida, bela, idílica menina corpo de lírio, que crescendo o horizonte para além dos campos que fizeste nascer, serias tu desfolhada em nova colheita!

 

Artigo da autoria de Márcia Branco

 

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